Aos 7, o vazio começou a me incomodar mais, principalmente quando chegava o Dia dos Pais. Meus irmãos assumiram seu papel. Eles tentavam ser figuras masculinas presentes. Ainda assim, lembro de sentir essa ausência. Datas comemorativas eram difíceis na escola.
Te vi de novo aos 13. Você foi ao aniversário da minha sobrinha. Me tratou como se tivesse me visto no dia anterior. Fiquei revoltadíssima, tive uma explosão de raiva, sabe? Não entendia quem era aquele pai que apareceu do nada. Você queria me dar um celular de presente, porque sabia que eu queria, como se pudesse comprar minha atenção. Mas eu não conseguia expressar isso para você, não tinha maturidade para tanto.
Depois, ficamos mais 10 anos sem nos ver. Era outro aniversário. Eu já tinha criado certa indiferença. Não sentia absolutamente nada. Depois disso, o pouco que eu sabia sobre você era pelos meus irmãos, que tinham mais contato com sua família.
Há quatro anos, meu irmão te ligou. Você já estava idoso e reclamou que ele foi o único filho que te ligou nos Dias dos Pais. Por que eu te ligaria para desejar feliz Dia dos Pais? Para mim, você não foi um pai.
Há pouco tempo meu irmão me mandou uma mensagem dizendo que você havia morrido. Quando soube da notícia, foi estranho. Fiquei triste, chorei. Morreu alguém que me deu a vida. Mas, ao mesmo tempo, pareceu apenas a morte de um conhecido.
Hoje, com a cabeça que tenho, talvez te diria algumas coisas que não tive oportunidade. Como, por exemplo, seu abandono reflete até hoje nas minhas relações. Minha mãe me educou para ser uma pessoa mais dura, que não acredita tanto no amor. Queria ter tido a oportunidade de te contar isso.
E também de te responsabilizar. Você, como outros homens, foi muito pouco responsabilizado por sua ausência.