— Mãe, a senhora não tem medo que ele te envenene ou te mate?
— Tenho. Se acontecer alguma coisa comigo, tem um diário em que anoto tudo. Procure esse caderno.
A conversa de dois anos antes ecoou na memória de Raquel Arnold ao ver o corpo da mãe, no chão, na tarde de 20 de setembro. Elisete Menin Arnold, 58, foi morta à queima-roupa pelo ex-marido com dois tiros, no rosto e no pescoço, na frente da casa de sua outra filha, Emelyn, em Curitiba.
Foi quando Raquel disse à irmã: "Precisamos encontrar esse diário".
Entrou na casa, de onde Elisete havia acabado de sair após uma visita a Emelyn, e foi até o quarto. Olhou em volta. Abriu o guarda-roupa. Lá estava, em uma prateleira. Enquanto folheava o caderno, as agressões saltavam das páginas.
"Deu dois socos na minha cabeça."
"Cuspiu na minha cara."
"Está me matando aos poucos de tanta humilhação."
"Preciso de ajuda, vou enlouquecer."
O diário foi escrito entre 2017 e 2019. Até então, Elisete mantinha o caderno escondido, para que o ex-companheiro, José Francisco Ferreira da Silva, hoje preso preventivamente pelo crime, não o encontrasse. "Parecia que ela sabia o que ia acontecer", diz Raquel.
Elisete tinha olhos verdes, dois empregos, três filhos e cinco netos. Esta é a sua história.