Gabriela de Santana e Daniela Ribeiro Mendes perderam seus filhos, ambos de dez anos, em agosto último, vítimas de câncer. É impossível descrever a dor delas. Mas ambas concordam que os últimos dias da vida das crianças, que não estavam num hospital e, sim, num hospice, foram mais leves para todos graças ao conceito do lugar. "Continuo sendo mãe. Serei para sempre. Ele só foi antes", resume a maquiadora Gabriela, 28 anos.
O hospice (se pronuncia "róspice", e a expressão em inglês vem de hospedaria) parte da premissa de um atendimento humanizado, feito por uma equipe multidisciplinar -- composta por médicos, psicólogos e fisioterapeutas -- ao paciente e também aos familiares, quando todas as chances de cura já foram esgotadas.
As crianças ficaram no Hospice Francesco Leonardo Beira, da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer. O espaço é chamado de Tucca pelos frequentadores, sigla de Tumor Cerebral em Crianças e Adolescentes. Os tratamentos oferecidos foram ampliados, mas o apelido ficou. Esse é único hospice pediátrico do Brasil, e recebe pacientes de zero a 18 anos. Por ali, já passaram 45 crianças em fase terminal nesses cinco anos desde a inauguração.
A casa, onde o sol parece bater em cada canto, é localizada em Itaquera, na zona leste de São Paulo. Lá, há três quartos, com espaço para acomodar a família do paciente, além de brinquedoteca, cozinha, jardim, banheiras de hidromassagem, um tanque com peixes... tudo o que simboliza conforto. As visitas não têm hora marcada, nem há limite de pessoas. Tudo é bancado por doações.
Levar o filho ao hospice representa, para muitas mães, uma forma de acelerar sua morte. Foi o que passou pela cabeça de Gabriela e Daniela. Mas essa ideia ficou para trás na primeira vez em que pisaram no local. E, aqui, elas contam essa experiência.