"Desde pequena sempre quis ser uma Kardashian. Por isso escolhi ser chamada de Kylie.
O nome significa muito para mim. Meu pai só ri. Às vezes o chamo de pai e às vezes de Leo. Mãe nunca.
Foi no ano passado que consegui realmente colocar a Kylie pra fora. Aos 11, já mostrava muito pro Leo que gostava do universo feminino, mas ele também não entendia muito bem. Uma vez, passou um programa sobre uma adolescente americana trans, a Jazz Jennings, e entendi naquele momento que eu estava no corpo errado.
Nossa família entende, mas não gosta muito disso tudo. Minha avó é evangélica e já a peguei fazendo oração para tirar a 'parte afeminada' de mim.
A gente não teve medo de transicionar, mas sofri bullying a vida inteira e já parei de estudar por causa disso. Já fui agredida e arrancaram a peruca que eu usava. Disseram que eu nunca seria mulher.
Quando cheguei em Florianópolis, no ano passado, numa nova escola, sofri mais preconceito. Eu e o Leo propusemos uma palestra, explicamos a nossa condição, e o clima melhorou um pouco.
Eu e uma amiga fomos convidadas para nos apresentar na festa da primavera, com uma música do Pabllo Vittar. Ganhamos até ponto. Todo mundo aplaudiu.
Mas os deboches continuaram. Começaram a me ameaçar, falando que iam me bater. Tive crise de ansiedade e saí do colégio. Agora estou tentando voltar.
Kylie Medeiros