No ano passado, veio à tona o maior caso de violência sexual do país. O médium João de Deus, que atuava em Abadiânia (GO) e era reconhecido mundialmente pelo seu poder de cura das mais diversas doenças, foi acusado de ter estuprado centenas de fiéis. Segundo o Ministério Público, as vítimas eram crianças, adolescentes ou adultos -- pessoas enfermas que buscavam algum conforto para as próprias dores e confiaram no médium. Foram mais de 300 relatos de abusos espalhados pelos 45 anos de atuação de João, que permanece preso.
Foi também em 2018 que a ministra responsável pelo ministério das mulheres, Damares Alves, revelou ter sido vítima de violência sexual na juventude. Ela contou do crime que sofreu em detalhes à Universa. Um relato como esse ressalta a importância de falar sobre o ocorrido para proteger futuras vítimas.
Expor a realidade ajuda mulheres
O último estudo nacional, do Fórum de Segurança Pública, mostra que 60 mil mulheres foram vítimas de estupro em 2017. O crescimento foi de 10,1% em relação a 2016. O aumento mostra que também cada vez mais mulheres e autoridades estão rompendo o medo para expor essa realidade. No estado de São Paulo, por exemplo, foi registrado recorde de denúncias. Foram 11.950 casos em 2018, segundo a Secretaria de Segurança Pública, de estupro e estupro de vulnerável.
Na contramão, tramita na Câmara e no Senado propostas para proibir que vítimas de estupro façam abortos dentro da lei -- ou em qualquer ocasião, mesmo ao sofrerem estupro.
"Essa contradição está relacionada ao fato de que, apesar do crescimento da bancada feminina, houve também um aumento da bancada conservadora. É importante dizer que nem todas as mulheres eleitas são feministas. Algumas, inclusive, defendem pautas que podem representar retrocessos no que diz respeito aos direitos das mulheres, como a restrição do acesso ao aborto em casos em que ele já é legalizado", explica a pesquisadora Beatriz Rodrigues Sanchez, do Grupo de Estudos de Gênero e Política da USP.