"Índigo tem que estar feliz." "Crajiru e urucum, juntos, são tão bonitos."
A estilista Flavia Aranha, 34, fala nomes de plantas como se fossem de entes queridos. Seus olhos brilham e um meio sorriso brota nos lábios quando se lembra das ervas que originam as cores que nascem em seu caldeirão de tingimento. "Sempre tive essa conexão com as plantas. Quando era criança, gostava de ficar no meio das samambaias na minha casa", conta. De certa forma, elas são consideradas parte da família da artista de Campinas (SP), que começou a costurar na adolescência, quando fazia roupas para si com retalhos de tecidos.
Neste sábado (27), a estilista desfila pela primeira vez na São Paulo Fashion Week. A estreia nas passarelas se dá dez anos depois que ela deixou uma tradicional marca de moda após ver "rios coloridos" em uma viagem para mapear fornecedores na China e na Índia. "Fiquei angustiada, pensei em largar a moda", afirma. Em vez de fugir, Flavia decidiu continuar no jogo e mudar as regras da indústria têxtil --nem que fosse um pouco-- com sua grife, que tem loja na Vila Madalena, na capital paulista.
A Universa esteve na segunda-feira (22) no "barracão" de costura da artista que mais parece uma casa do Pinterest: encontramos vasilhames e "tubos de ensaio" manchados de cores fortes, araras com roupas para o desfile e acessórios sendo finalizados ao lado da mesa de escritório de Flavia. Ali ela emprega 25 pessoas com carteira assinada e tenta criar uma linha de produção mais humana.
No andar de cima, funciona uma lavanderia industrial que faz tingimentos biodegradáveis."Temos, ainda, uma rede de colaboradores de agroecologia e pequenos agricultores que fornecem as matérias-primas", diz. Flavia chega a produzir 8 mil peças por ano --e em cada uma delas tem uma planta, um toque da estilista e de suas costureiras--, vendidas no Brasil e em Portugal, onde ela tem outra loja. "É possível fazer moda com sustentabilidade", fala.