"A morte é um negócio que a gente não sabe como lidar mesmo. Ninguém sabe.
Quando ligaram para a minha tia e deram a notícia da morte da minha mãe, foi como se eu entrasse em uma nuvem. Você meio que flutua, sabe? É como se não sentisse nada por algum tempo.
Isso foi há um ano e três meses, ou seja, quase nada. Meu pai me telefonou no meio daquela madrugada, 25 de agosto, e disse que minha mãe estava no hospital por causa de um ataque de asma. Ela tinha ido passar o fim de semana sozinha na nossa casa em Gonçalves, no interior de Minas Gerais. Mas o resto da família —eu, meu pai e meus três irmãos— ficou em São Paulo.
Na hora que atendi o telefone, nem pensei muito. Eu tinha ido dormir no outro apartamento que temos aqui perto, no mesmo bairro de Santa Cecília, em São Paulo, como fazia às vezes. Só voltei correndo para casa.
Quando cheguei, estavam na sala minha tia Renata Young, meu pai e minha irmã gêmea, Cecília. O clima era muito tenso. Ficamos esperando chegar a notícia de que a crise tinha passado e que ela já estava melhor. Tudo durou menos de uma hora, mas parecia uma eternidade. O tempo não passava.