Por quase 40 anos, mulheres foram proibidas de fazer coisas como rolar a bola em um campo ou disputar um lance com uma adversária de escudo. Pelo menos oficialmente. E isso no Brasil, o país do futebol.
O decreto-lei 3.199, de abril de 1941, instituiu no artigo 54 que "às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza". A historiadora Silvana Goellner, especializada em futebol feminino, diz que a lei surgiu em uma época em que a ciência higienista estava em alta. "As mulheres tinham que gerar filhos, cidadãos fortes para o Brasil", explica.
Porém, mais do que um reflexo de teorias biológicas da época, a especialista diz que, tendo dinheiro na mão e longe dos pais e dos maridos por causa dos campeonatos, as jogadoras estavam se tornando mais independentes na década de 40, o que pautou a criação da lei. "Elas estavam fugindo dessa representação da feminilidade", fala a historiadora. E a principal fonte de temor era o futebol feminino de várzea, que estava se destacando na época. "E o esporte sempre foi um espaço de ascensão social, incluindo mulheres periféricas", afirma Silvana.
Na periferia de São Paulo (SP), o futebol feminino de várzea tem ressurgido, quase 80 anos depois da proibição. No dia 22 de julho, acontece a 1ª Copa da Liga Feminina de Futebol Amador, que conta com cerca de 100 equipes. Um dos competidores é o Apache, equipe de Parelheiros, bairro do extremo sul de São Paulo. A Universa acompanhou um jogo do time que tem jogadoras de 14 até 40 anos. São donas de casa, mães ou trabalhadoras que se arrumam para entrar em campo (algumas até se maquiam) e se divertem todos os domingos --sem falta.
Autoriza o árbitro.