Quando estava no sexto ano, em uma escola nova, Gabriela Gracioli, 15, já era vista como diferente. Antes mesmo de saber o que era gênero e orientação sexual, ela era tratada como um menino afeminado e punida por isso, a ponto de não conseguir mais frequentar a escola e repetir de ano.
Com 13 anos, então, descobriu-se Gabriela, menina transgênero. Assistir a vídeos no YouTube de outras pessoas trans foi crucial para entender seu corpo e se encontrar como garota.
Estudante de escola particular, ela conta que, apesar do acolhimento da família, foi mais difícil fazer seu colégio entender sua identidade. "Eu pedi para que mudassem meu nome na chamada e para usar o banheiro feminino. Eles resistiram, mas eu descobri que tem uma lei estadual [lei nº 10.948, de São Paulo], que determina que pessoas trans têm esses direitos. Eu levei a lei impressa para a diretoria e meu nome foi mudado na chamada e agora eu posso usar o banheiro de acordo com o meu gênero."
Logo depois veio a descoberta do feminismo. "Ser mulher vai muito além de roupa, de brincar de boneca. É um sentimento. Depois que assumi a identidade de Gabriela para o mundo, eu acabei entrando em contato com o feminismo por conta de toda a opressão que as mulheres sofrem, independentemente de serem trans ou não." E não demorou para que percebesse o machismo por ser mulher, mesmo tão nova.
"O assédio na rua foi enorme quando comecei a transição. Os caras ficavam buzinando na rua, me 'cantando', com 13 anos. Eu vejo esses homens mexendo com meninas de 11, e isso não é elogio. E, no meu caso, logo que eles percebiam que eu era trans, vinha o preconceito", conta.
Quando passou a se informar mais sobre o feminismo, com a ajuda da internet, descobriu seu potencial de mudar o seu entorno. "Eu transformei a minha mãe. Ela tinha uns pensamentos muito machistas, mas já ensinei muita coisa para ela, especialmente sobre ser transgênero. Minhas amigas também se sentem mais livres para se abrir comigo, porque eu só falo sobre feminismo, e falo mesmo, é importante."
Hoje, no primeiro ano do colegial, ela quer cursar design de moda na faculdade (gosto que, segundo ela, passou de mãe para filha) e descobriu a importância de não se calar e viver à sua maneira. "Eu tive muito problema de aceitação, principalmente porque eu estava num corpo com o qual eu não me identificava. Agora, estou me amando e adequando meu corpo à minha cabeça. Fui aprendendo que eu tenho orgulho de ser trans, tenho orgulho da minha história. E não tenho mais medo", afirma.