"Ao longo do tempo, sinto que vivi o luto de todas as formas que uma mulher é capaz de viver. Comecei a namorar aos 16 anos, e a primeira vez que engravidei foi aos 23.
Naquela época, fui pega desprevenida. Nós éramos jovens e queríamos ter uma família, mas ainda não estávamos organizados para isso. Apesar disso, ficamos felizes com a novidade. Seis meses depois, essa gravidez foi interrompida. Passei por um parto, e a bebê não resistiu.
Pedi as contas do trabalho e passei uma semana na cama, comendo quase nada. Vivi um luto intenso por quase um ano. Nisso, nos conectamos ainda mais como casal. Meu companheiro também sofreu, me ofereceu apoio e foi muito presente.
A experiência acelerou nossos planos de casamento e de estruturar nossas vidas juntos. Dois anos depois da perda, senti vontade de engravidar novamente e aconteceu.
Com poucas semanas de gestação, tive um aborto espontâneo, algo que pode acontecer com qualquer mulher. Mas, naquele momento, lembro de pensar se o problema era comigo, se tinha feito algo de errado, se era digna de passar por aquilo.
Dessa vez, a frustração foi maior do que a dor. Por causa disso, procurei um médico para investigar o que estava acontecendo e fui diagnosticada com insuficiência do colo do útero.
A preparação para uma nova gravidez foi intensa e levou dois anos. Sabia que precisaria passar por um procedimento chamado cerclagem e que deveria fazer repouso durante os nove meses de gestação. Quando deu certo, fiz tudo o que estava ao meu alcance para manter nossa saúde em ordem: cuidei da alimentação, da pressão, fazia consultas e só levantava para ir ao banheiro.
Ainda assim, entrei em trabalho de parto quando estava com 19 semanas. Ali, nosso mundo desabou. Sinto que fui ao fundo do poço.
Eu sonhava em ser mãe de um menino, e perder o João foi devastador. Mais uma vez, meu marido foi maravilhoso: um companheiro nota 10, que ficou comigo dia após dia, me vestiu, me deu banho, penteou meu cabelo, empurrou minha cadeira de rodas quando não tinha forças sequer para me movimentar.
Mas, nesse mesmo ano, passamos por uma situação limite: a quarta gestação. Ela aconteceu sem muito planejamento e também não teve continuidade. Durou apenas 13 semanas.
Ali, nós não tínhamos mais psicológico para pensar em uma família. Meu sentimento era de revolta. Eu só sentia dor, luto, raiva. Comecei a questionar Deus. Estava exausta e passei a dizer que não queria mais ser mãe. Não acreditava que algo tão terrível pudesse estar acontecendo comigo.
Nos afastamos. Eu dizia para qualquer um que me perguntasse que não queria mais ser mãe. Até que brigamos e nos separamos. Disse que ele deveria procurar outra pessoa, alguém que fosse capaz de realizar os sonhos dele, já que eu não daria conta disso.
Apesar da separação, continuamos nos falando, sem uma proximidade romântica. Estávamos construindo uma casa juntos e ele acompanhava de perto a obra.
Dois meses depois da nossa separação, fui chamada pela Unicamp para realizar um procedimento chamado cerclagem definitiva, que poderia eliminar de vez as minhas dificuldades em ter um filho. Concordei em fazer e precisei passar dois meses sem ter relações sexuais.
Exatamente no dia em que estava liberada para isso, nossa casa ficou pronta e reatamos nosso casamento. Ali, eu engravidei pela quinta vez e senti no meu coração que era para ser.
Hoje, somos pais do Anthony, de 3 anos, que consideramos nosso milagre. Fico feliz de não ter desistido do sonho que sempre tivemos juntos."
Caroline Fernandes, 32 anos, empresária, de Extrema (MG)