Coragem, amada?
Gordas de meia arrastão, com tapa-mamilo, rebolando no bloquinho. Cansadas de esconderem a pele com mais tecido, muitas mulheres têm colocado nas ruas -e exaltado -corpos livres, grandes, gliterizados. Apesar de ser uma "festa democrática", dizem, a pressão estética e a gordofobia não as abandonam no Carnaval. Daí, precisam colocar a pauta na rua, denunciando olhares preconceituosos e comentários gordofóbicos que ouvem enquanto estão apenas curtindo a folia.
Para muitas, isso vira combustível para reverter a visão objetificada da mulher gorda -às vezes ainda vista como "feia, desengonçada ou mal-arrumada" dentro e fora do clima de folia. Outras, criam seus próprios bloquinhos ou se reúnem em grupos para ocuparem espaços e chamarem atenção de forma positiva. Fato é que o corpo gordo "tem o direito de ocupar esses lugares como qualquer outro corpo", defende a jornalista e ativista body positive pernambucana Vanessa Campos.
Pela primeira vez, neste ano, surge uma campanha na internet sobre o tema: #CarnavalSemGordofobia. Outras hashtags, como #CorpãoDeCarnaval, também ganham as redes sociais. Será que entramos, finalmente, na ala da diversidade, com barrigas e braços grandes e celulites no bumbum à mostra?
Universa ouviu mulheres que estão dançando de roupas curtas e com direito a guarda-chuvinha de frevo na corda bamba entre a militância e a festa. "Cada vez mais, temos movimentos como 'Gorda de Shortinhos pode', nas redes, e, a cada ano, vamos diminuindo o tamanho da roupa nas ruas", pontua uma das criadoras do grupo Baile das Gordas, de Salvador, Carla Leal, que há três anos vai ao pré-Carnaval levantando o estandarte da diversidade de corpos.
Para uma das criadora do movimento Carnaval sem Gordofobia, Luana Carvalho, de Porto Alegre, falar do respeito ao corpo gordo no momento em que mulheres com corpos sarados ganham destaque na folia é evitar que mais homens e mulheres passem pelo constrangimento de ouvir comentários gordofóbicos sutis como "Como você tem coragem de estar com a barriga de fora!".
Não é coragem. É liberdade, conforto, beleza. É Carnaval!