Aconteceu nos anos 1990, quando eu ainda estava na escola. Até aquele momento, eu nunca havia usado sutiã. Não sentia necessidade. Como demorei a entrar na puberdade, não tinha peito, não tinha corpo, era reta como uma tábua.
Mas naquele dia os meninos zombaram mais do que o habitual do meu mamilo duro — como se aquilo também não acontecesse com eles. Então, por mais que a peça me incomodasse, voltei para casa decidida a usar sutiã.
Não que fosse resolver a minha questão, que era me sentir diferente. Eu achava que não me encaixava em nenhum lugar. Gostava de jogos, de tudo que era tido como "de menino". Pertencia a uma família conservadora e religiosa, com uma visão rígida sobre o que é ser mulher.
Essa impressão de que eu era diferente se reforçou aos 16 anos. Todas as meninas da minha idade já tinham menstruado. Menos eu. Até me sentia sortuda porque elas reclamavam de cólica, às vezes faltavam à aula porque sofriam muito com as dores. Minhas colegas de sala também diziam sentir inveja de mim porque não tinha espinhas.
Então esse era o quadro: eu não menstruava, minhas mamas não cresciam, minha pele não parecia a de uma adolescente típica. Nada disso acontecia. Foi aí que começamos a investigar o que eu tinha.