Depois de alguns anos afastada das gravações, fazendo uma ou outra aparição muito pontual na TV, me procuraram para fazer uma entrevista e perguntaram por que eu estava sumida. Na hora, pensei: "Gente, eu vou dizer o quê? Que eu estava no Tibet?".
Eu perdi tudo —trabalho, saúde, peso. A única coisa que eu tinha para contar era a verdade. E falei: 'Eu tive TOC'.
Teve uma repercussão muito grande porque, assim como eu, ninguém sabia muito bem o que era TOC.
A partir dali, a vida da minha mãe virou uma loucura. Encontraram o número dela na lista telefônica e não paravam de ligar pedindo ajuda, indicação de médicos. "Eu tenho isso, meu filho tem isso, meu marido em isso."
No trabalho, passei por muito perrengue de estigma e preconceito.
Sentia essa vibração nas pessoas: "Ah, ela vai dar trabalho". Só porque eu tinha falado publicamente sobre saúde mental. Mas eu nunca dei um piti na minha vida, nunca aumentei o tom de voz com ninguém. No trabalho, sou impecável. E já vi muita gente dando escândalo nos bastidores sem ter doença nenhuma.
Queria ter trabalhado mais naquela época —não chega a ser uma frustração, mas sinto que foram cinco anos perdidos profissionalmente.
Ao mesmo tempo, entendo que foi o caminho que a vida tinha que seguir. Não queria ter vivido nada disso, claro, mas aconteceu. Fazer o quê?
Tenho um livro pronto desde 2010 que fala sobre TOC da forma que eu quis muito encontrar lá atrás e não encontrei. Na época, não quis lançar porque tive medo de ficar estigmatizada.
Todo mundo só queria falar disso, ninguém queria saber o que eu estava fazendo —peça, série, novela. Isso me incomodava. Mas hoje entendo que, na verdade, existe uma demanda pelo assunto justamente porque quase ninguém fala. As pessoas querem ler, se identificar, entender o problema.
Hoje tomo uma dosagem mínima de remédio e faço acompanhamento com psiquiatra. Só. E vivo profundamente, porque foi nas coisas boas do dia a dia que eu encontrei vida de novo —um almoço com meus pais, por exemplo, poder sair sem medo, comer com prazer.
Desde 2003, na verdade, quando comecei a me tratar para valer, sou outra pessoa. Não entro em pânico, não sinto nada.
Se eu vejo um quadro torto, não vou lá mudar, não me afeta, não me dá gatilho. Assim como um pensamento ruim, uma sensação de ansiedade, que eu ainda tenho, claro, não me afetam, não me tiram dos compromissos. É impressionante a diferença.
Eu fui cruel comigo. O tabu, o estigma, me fizeram demorar muito para me tratar. Mas voltei a ser uma fortaleza.