Aos 28 anos, Karla Tenório sentiu que havia chegado a hora de ser mãe e engravidou de Flor Inaê, sua única filha. Dez anos depois, a atriz e dramaturga sentiu que havia chegado a hora de assumir, publicamente, ser uma mãe arrependida.
Em maio, ela deu um depoimento a Universa falando sobre esse arrependimento e expondo o que não gosta na maternidade. Karla viu que não estava sozinha: recebeu centenas de mensagens de mulheres contando que sentiam o mesmo. E também recebeu ataques em suas redes sociais, com mensagens condenando sua fala — como se o sentimento sobre a maternidade anulasse a possibilidade de amar sua filha.
"Ela é muito amada, a gente conversa bastante sobre o assunto. Minha filha entende que não tem a ver com ela", diz Karla, que vive no Rio de Janeiro.
Os ataques que a atriz sofreu são efeito do tabu envolvendo o tema. Ao invés da imagem da mãe que se doa 100%, que não reclama e só se sente completa ao lado do filho, essas mulheres questionam a falta de tempo, o acúmulo das tarefas de cuidado e as exigências da sociedade para a mulher ser uma "mãe perfeita".
É preciso dizer que arrependimento não significa violência ou abandono. Essas mulheres amam seus filhos, cuidam e são responsáveis por eles, mas sofrem —quase sempre em silêncio— por desejarem nunca terem sido mães
"Arrependimento materno é o descobrir e o sentir que você cometeu um erro ao decidir gestar ou adotar uma criança; é se dar conta de que, para você, todas as dificuldades que acompanham a maternidade não valem a pena", diz a Universa a socióloga israelense Orna Donath, autora do livro "Mães Arrependidas" (ed. Civilização Brasileira), publicado em diversos idiomas.
Universa conversou com cinco mulheres de idades, profissões e cidades diferentes que falam sobre esse lado silenciado da maternidade e afirmam que, se pudessem, voltariam atrás. "Às vezes, eu quero pegar as minhas coisas e ir embora", diz a estudante de Manaus (AM) Kamila*, que preferiu não se identificar.