Decidi escrever esta reportagem por nunca ter me esquecido da angústia que minha mãe viveu tendo um filho atrás das grades. A primeira vez que meu irmão foi preso, por roubo de carro, ela tinha 39 anos; eu, 9, e ele, 15. Primeiro, ele foi para a Febem --como era chamada a Fundação Casa, até 2006--, de onde entrou e saiu mais de uma vez. Maior de idade, foi parar em uma penitenciária. Sempre pelo mesmo crime.
Domingo, dia de visita, minha mãe acordava às 4h para cozinhar o almoço que levaria para o meu irmão na cadeia. Na revista, agachávamos três vezes com as calcinhas arriadas, para que a agente penitenciária visse se escondíamos algo na vagina. Passar a tarde em um pátio de concreto era rotina. Mas não falávamos disso fora de casa --por vergonha e medo.
O Brasil tem uma população carcerária de mais de 700 mil pessoas. Mas, fora da cadeia, há mais prisioneiras: as mães de encarcerados. Além da tristeza e preocupação constantes, elas perdem a liberdade ao viver uma rotina que inclui conversas com advogados, gastos com mantimentos para os filhos, longas jornadas para vê-los e humilhações durante a revista. É uma punição constante, como se elas fossem criminosas. Aqui, você vai conhecer a jornada de algumas dessas mulheres.