Estresse, cansaço, sobrecarga, ansiedade. Cobrança, culpa, frustração. Sobrevivência. Palavras como essas se repetiram à exaustão (outra palavra recorrente) nas conversas com as mães que participam desta reportagem. Depois de um ano de pandemia, a jornada contínua pesa ainda mais. O looping sem fim de home office, homeschooling, afazeres domésticos e cuidados com as crianças que vêm acumulando, sem rede de apoio, durante a pandemia de covid-19.
Um estudo focado em mães brasileiras divulgado pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul em fevereiro desse ano mostra que 83% delas se sentiram mais sobrecarregadas por cuidar dos filhos durante a pandemia. Além disso, 25% apresentaram sintomas de depressão, 26% de ansiedade e 22% de estresse.
"Mulheres já são mais propensas a ansiedade e depressão. Mas, a partir desses resultados, podemos refletir o quanto a soma de papéis impactou de forma negativa na saúde mental das mães", diz Tatiana Carvalho Martins, coordenadora do estudo, que também concilia o trabalho remoto com os cuidados da filha de três anos.
Historicamente, as mulheres nunca estiveram tão sobrecarregadas, diz a filósofa e feminista italiana Silvia Federici que despertou para "a luta invisível das mulheres", seu tema de estudo, observando a própria mãe, uma dona de casa. "Ela dizia o tempo todo: 'Meu trabalho não é valorizado'. Meu plano era não ter que fazer nenhum trabalho doméstico na vida. Esse foi um dos motivos para eu não ter filhos", diz a escritora em entrevista a Universa.
O conhecido desequilíbrio da balança na divisão de tarefas da casa e no cuidado com os filhos desabou com tudo para o lado delas durante a pandemia: mais da metade das brasileiras ficou de fora do mercado de trabalho, gerando um retrocesso de décadas. A história se repete pelo mundo. Nos Estados Unidos, cerca de 80% dos adultos que pararam de trabalhar porque tinham de cuidar dos filhos eram mulheres. No Reino Unido, um terço das mães diz estar "no limite".