Margarida Bulhões Pedreira Genevois, 97 anos, está intrigada. Depois de dedicar a vida à defesa dos direitos humanos, de ter buscado uma conscientização política que sua criação elitizada não forneceu, de ter se envolvido com setores da sociedade distantes de sua origem abastada, de ter ajudado a salvar vítimas da ditadura militar, ela não entende a letargia do povo diante da situação crítica em que o Brasil se encontra:
"As pessoas se queixam de tudo, mas não propõem nada", diz ela, na sala de jantar de seu apartamento, na região central de São Paulo. "Fico impressionada com a falta de iniciativa. A gente precisa mudar não só de ideia, mas de vida."
Iniciativa é uma palavra muito importante para entender a história de Margarida. Nascida no Rio no começo do século XX, ela estudou nos colégios de freiras mais tradicionais da cidade, o Sacre-Coeur e o Sion, casou-se com um francês, teve quatro filhos e foi morar com a família em uma fazenda perto de Campinas (a 100 km de SP), adquirida pela empresa multinacional em que o marido trabalhava.
Se fosse cumprir apenas o que esperavam dela, teria resumido sua existência na criação das crianças, na dedicação ao marido e aos afazeres domésticos.
Mas muitas outras coisas passaram pela sua frente, e ela não pode deixar de ver...