"O repórter perguntou se eu era homossexual. Mal soube o que responder..."
Depois de uma partida nas Olimpíadas de Londres, em 2012, em que a seleção jogou contra o time de Montenegro e eu me saí muito bem em campo, nossa equipe de handebol foi dar uma entrevista para muitos repórteres. Um deles me perguntou, na lata: "Mayssa, você é homossexual?".
A imprensa sempre olha a vida da gente, né? O que faz, o que deixa de fazer... Um ano antes, eu tinha sido madrinha de um torneio LGBTQ+ na França. Eu jogava em Paris, ainda não tinha assumido minha orientação sexual, mas a organização desse evento me convidou e eu topei participar. Mas ali, nas Olimpíadas, eu tinha acabado de sair de um jogo importante, com um bom resultado. E não queriam falar sobre esporte, só sobre a minha vida pessoal.
Eu era inexperiente, estava começando a me abrir, mal soube como responder aquela pergunta...
Achei uma falta de respeito, porque essa pergunta desviava completamente do assunto, que era o handebol. Não lembro o que respondi, mas não disse nem que sim, nem que não. Saí puta da vida, xingando o jornalista. No dia seguinte, foi publicado que eu era bissexual.
Todo mundo veio até mim: a comissão olímpica, os técnicos, os diretores, as outras atletas... Perguntavam: "Mayssa, você está sabendo o que estão falando de você?". Estava na primeira página dos portais, na televisão...
Nos treinos, sempre tinha repórter acompanhando. Mas, ao invés de entrevistarem as capitãs ou a treinadora, como era de costume, vieram todos em cima de mim, como um enxame. O pessoal da comissão me protegeu, me tirava das coletivas, blindava um pouco o acesso a mim. Só queriam saber sobre minha sexualidade.