Elas convivem com a informação de que seus muito amados morreram afogados em lama suja. Se você sente falta de ar só de pensar no fato, seis mulheres que visitamos e com quem passamos horas conversando contam o que acontece com elas. Dor no peito. Choro aos gritos. Sonho com a filha tendo dor e esticando os braços em sua direção. Infelizmente, essa é só parte da agonia que elas sentem.
A melhor amiga de uma delas estava grávida. Sonhava em ser mãe e foi enterrada com a filha na barriga. A filha de outra havia pedido à mãe para ser cremada ao morrer, porque tinha medo de ser enterrada viva. E foi. A mãe de mais uma morta dorme até hoje com as roupas de cama da filha para sentir seu cheiro. E uma viúva conta que chegou a ter raiva do filho porque ele é a cara do pai.
A mineradora Vale derramou o equivalente a 5 mil piscinas olímpicas de rejeitos na vida dessas mulheres. Num acordo judicial, se comprometeu a pagar-lhes uma indenização. Ação que, além de não ser nada mais que o justo, é uma espécie de band-aid numa chaga. Ou alguém imagina não ser essa a sensação de perder um irmão assim e, ainda por cima, até hoje, não ter tido seu corpo encontrado?
O sistema de saúde de Brumadinho passou a distribuir 80% a mais de ansiolíticos e 60% a mais de antidepressivos para a população, cujos índices de suicídio ou tentativa de suicídio batem números preocupantes. Uma das entrevistadas detalhou como, às vezes, planeja se matar.
Como na canção "Rosa de Hiroshima", essas mulheres tiveram suas rotas alteradas. A lama foi estúpida e inválida.