Eu não sabia se seria capaz de viver um relacionamento aberto. Sempre fui possessiva, tinha minhas inseguranças, medo de perder meu marido [o dramaturgo paulista José Roberto Jardim, 44]. Mas eu tinha que tentar, mesmo sabendo que seria dificil. Quebrar qualquer padrão é muito doloroso, ainda mais um padrão de comportamento emocional que está enraizado na nossa sociedade há tanto tempo!
Até me aprofundar nos estudos sobre a história da mulher e do patriarcado, em 2015, eu não pensava sobre isso e nem sabia direito o que era um relacionamento aberto, como funcionava. Foi meu despertar para o feminismo e para as questões da mulher que me fez rever meus moldes e pensar sobre eles.
A gente aprende que só existe uma maneira correta de se relacionar: o casamento heterossexual, monogâmico e para vida toda. Fomos ensinadas que a monogamia é o "normal". Ela nos é imposta, a gente não escolhe e não reflete sobre ela, não questiona. Aceitamos e pronto.
A verdade é que a monogamia só existe para nós, mulheres, pois os homens sempre a viveram de maneira hipócrita. Não por uma falta de caráter masculino, mas por causa de uma dinâmica na sociedade que tem uma permissividade para que esses homens não sejam fieis à suas mulheres. Enquanto para nós mulheres a traição, desde sempre, foi punida com crítica e violência, há poucos anos ainda éramos duramente penalizadas legalmente.
Foi aí que me dei conta que eu não escolhi a monogamia e pior, me fizeram acreditar que eu jamais conseguiria viver numa "abertura". O que estou falando é sobre equidade de liberdade. Os homens há centenas de anos exercem a sexualidade e os desejos deles de maneira livre e impositiva; já nós, não. Nunca foi equilibrado.