Eu tinha 28 anos e estava no Rio de Janeiro, dirigindo até a casa dos meus pais. Logo que entrei no Túnel Rebouças, que liga o Rio Comprido à Lagoa, comecei a me sentir mal. O trânsito estava impossível: andava um pequeno trecho e passava no mínimo mais cinco minutos parada. Sozinha no carro, me vi naquele lugar escuro, fechado, claustrofóbico, poluído. Não sabia quanto tempo levaria para conseguir sair. Meu coração disparou, estava com dificuldade de respirar e cada segundo parecia uma eternidade.
Comecei a me sentir cada vez pior, até ter certeza de que iria morrer. Precisava fazer algo. Com o carro parado, abri as portas e desci ali mesmo, no meio do trânsito
Por sorte, havia um veículo com um casal dentro logo atrás do meu. Fui até eles pedir socorro.
-- Desculpa a pergunta, mas a moça que está do seu lado sabe dirigir? -- questionei o motorista.
-- Sabe sim, por quê? -- ele respondeu, percebendo meu estado alterado.
-- É que eu estou passando muito mal, preciso que alguém leve meu carro pelo menos até o fim do túnel.
A mulher que estava no banco do passageiro aceitou e lhe entreguei as chaves, que estavam na minha mão.
Enquanto isso, continuava desesperada. Precisava sair dali o quanto antes. Então, parei uma moto e expliquei ao rapaz o que estava acontecendo.
Não pensei duas vezes antes de subir na garupa do desconhecido e ir de carona até o outro lado. Hoje entendo o risco em que me coloquei, mas na ocasião, não conseguia raciocinar
Mais uma vez tive sorte: ele foi muito gentil comigo. Assim que saímos do túnel, ele sentou no meio fio ao meu lado e esperamos juntos meu carro chegar. Só então consegui me acalmar.
Semanas depois, comentei com o psiquiatra que estava me acompanhando havia pouco tempo sobre este episódio. Ele me parabenizou por não deixar o medo me dominar, por conseguir reagir mesmo em meio a uma crise de pânico. Mas me alertou também de que havia outros meios — bem mais fáceis — de lidar com esses sintomas, que já vinham me atormentando há tanto tempo.