Em 2015, quando minha mãe me explicou que eu estava sendo assediada na internet, me lembro de ter respondido: "Mãe, relaxa". Na minha cabeça, era natural ter haters, receber comentários negativos. Eu tinha só 12 anos.
Eu havia estreado no MasterChef Jr, versão com crianças do reality show de culinária da Band, na noite anterior. Mesmo assim, para mim, era uma manhã normal de escola - eu estava no 6º ano. Mas assim que coloquei os pés em casa, ainda vestindo o uniforme, percebi que havia algo de estranho.
Normalmente naquele horário, meus pais estavam cada um no seu trabalho. Mas naquela tarde, no entanto, os dois estavam na sala e o nosso telefone fixo não parava de tocar. Na maior parte das vezes, eles nem atendiam. Em outras, tiravam do gancho e pediam, nervosos, que por favor, parassem de ligar.
Logo percebi o contraste no rosto da minha mãe: na noite anterior, depois de me ver estrear na televisão ela estava feliz, animada, para cima, assim como eu. Agora, porém, sua expressão era de medo e preocupação. Pensei que pudesse ser alguma questão de trabalho, almocei e levei meu notebook para a área externa de casa. Passei algum tempo assistindo a vídeos do YouTube, algo que sempre adorei fazer. Não demorou, ela me chamou para conversar.
Primeiro, ela me ensinou o que era assédio. Depois, os motivos pelos quais ele é tão problemático. Em seguida, disse que, após a exibição do programa, alguns homens estavam me assediando na internet, mesmo eu ainda sendo criança. Conversamos sobre o que poderia ser feito dali para frente para que aquilo parasse. Foi uma conversa longa e chata.
Uma das frases postadas sobre mim, que ficou mais conhecida, foi: 'Se tem consenso, é pedofilia?'. Eu tinha só 12 anos, não sabia o que era estupro, muito menos consentimento
Eu não sabia que havia um grupo de homens insinuando coisas sobre meu corpo, que estavam literalmente ameaçando a minha vida. Tinha até gente dizendo que, se me encontrasse na rua, iria me sequestrar.