Em fevereiro de 2021, eu dirigia em uma rodovia em Los Angeles quando notei meus pés dormentes. Não sentia mais o pedal. Em questão de milésimos de segundos a dormência chegou às mãos e deixei de sentir, também, o volante.
Eu estava sozinha, a uma velocidade aproximada de 100 km/h, e não conseguia controlar o carro. Então me entreguei. "Vou morrer", pensei. "É isso. Vou bater o carro e morrer".
O sentimento era de total vulnerabilidade, desamparo e surpresa — afinal, aquilo veio do nada. Não conseguia entender por que meus pés e mãos estavam dormentes, o motivo de não ter controle sobre mais nada.
Então, de uma maneira que não sei explicar, consegui embicar o carro para a direita e parar no acostamento. Àquela altura, já podia sentir as mãos novamente. Aos prantos, telefonei para a minha mãe — assim como eu e meu marido, ela também mora em Los Angeles.
Nas pistas, os carros continuavam a trafegar em alta velocidade. O barulho dos motores e dos pneus dos veículos deslizando sobre o asfalto soava enlouquecedor. Com minha mãe do outro lado da linha, só chorava, chorava e chorava.
A sensação era de que nunca mais eu seria capaz de sair dali.
"Calma, filha. Eu posso ir ao seu encontro", minha mãe dizia, tentando me tirar daquele estado. Ao mesmo tempo em que chorava, eu rezava. Pouco a pouco, fui me acalmando e, depois de alguns minutos, pude retornar para a pista.
Quando finalmente cheguei em casa, saí do carro decidida a nunca mais dirigir.