Corpo de mãe, e daí?

A influenciadora Mariana Bridi conta o que sentiu quando foi julgada depois de postar uma foto de biquíni

Mariana Bridi, em depoimento a Nathália Geraldo Arte/UOL

Eu não costumava mostrar meu corpo.

Mas, em janeiro, postei uma foto em que estava na praia com minha família. Na imagem aparecíamos eu, meu marido, Rafael Cardoso, e meus filhos, Aurora e Valentim. Eu estava de biquíni.

Na legenda, escrevi que tive dúvida em postar aquilo. Não por vergonha do meu corpo. Nem por achá-lo ruim. Só queria evitar a fadiga. Sabia que, com uma foto, iria começar uma brigaiada no Instagram, com gente criticando, gente ofendendo de volta achando que está me defendendo.

Sempre tentei preservar esse lugar, sabe? Para mim, é muito importante que essa minha "casinha virtual", que é a rede social, seja um lugar de harmonia, paz e amor, como é minha casa na vida real.

Mas a foto viralizou. Foi meio chocante a repercussão toda [foram 75 mil curtidas nos primeiros dias, contra as 10 mil que as postagens costumam ter; até hoje, já são mais de 87 mil]. Uma hora depois da postagem, quando entrei no Instagram e vi que estava bombando, liguei pra minha melhor amiga e perguntei se ela tinha visto.

Lembro de ela dizer que essa realidade de escrever a minha verdade tinha me dado um senso de liberdade incrível.

Foi isso: aquela foto me libertou. Com ela, fui tomada por uma responsabilidade muito grande, de milhares e milhares de pessoas dizendo: "É isso aí, você me representa".

Arte/UOL

Meu corpo, sem vergonha

Comecei a ter mais visibilidade ao trabalhar com internet quando já estava grávida do Valentim. Então as pessoas não se lembram de mim antes de eu ter filhos. Elas não têm base de comparação do meu corpo pré-gestações. Se formos falar sobre o que é considerado padrão, ele era superpadrão.

O de agora é corpo de mãe.

Faço várias coisas para me cuidar porque acho muito importante estar no pique com meus filhos — na quarentena, por exemplo, o Valentim não desgruda de mim, do meu peito. Preciso ter força para ficar carregando para cima e para baixo. Eu quero ter energia para acompanhar cada fase deles.

Também me preocupo em comer bem e, aqui na fazenda, onde estamos passando esse período da pandemia, a gente tem produtos orgânicos e come coisas saudáveis.

Nas minhas redes, faço uma apologia muito específica, que é a apologia da felicidade. Se você está feliz com seu corpo, é isso que importa. Se não está, e quer emagrecer ou engordar, tudo bem. O que não dá é para sofrer.

Sou a favor de todos os corpos e de não ter que padronizar nada. Cada um é de um jeito e muitas vezes as pessoas não se veem representadas, porque é uma parte muito pequena da população que tem o tal do corpo "padrão de beleza".

Arte/UOL

Se eu tive inseguranças, foi com o que fazer da vida

Nunca fui de malhar muito. Minha mãe [a jornalista Sônia Bridi] pegava no meu pé pela questão da saúde, para eu me exercitar mais. Mas, até as crianças nascerem, sempre fui muito preguiçosa. Vivia arrumando desculpa, pagava academia seis meses e ia dez dias.

Também não tenho apego por estética, mas isso não quer dizer que eu não cuide do que eu acho que posso mudar para me fazer feliz.

Uma coisa que tenho muito desejo de fazer, assim que conseguir desmamar o Valentim, é diminuir meus seios, que me incomodam muito, me causam dor nas costas. Triplicaram de tamanho depois que tive a Aurora.

Também fiquei com um pouco de flacidez na barriga após engravidar e isso me incomoda — por isso, estou fazendo vários tratamentos para não ter que fazer cirurgia. Não gostaria de ter que ir para esse caminho, mas pode ser uma opção se, quando for fazer a redução da mama, eu ainda estiver incomodada com a flacidez.

A gente não pode menosprezar os sentimentos das pessoas, cada um sabe onde incomoda e em cada pessoa pode ser uma coisa diferente. Tenho várias seguidoras que comentam de suas estrias. Depois da gravidez, tive na barriga e nos seios, mas não me preocupo com elas. A minha cicatriz no pescoço depois que tirei a tireoide também não me incomoda nem um pouco.

Eu nunca tive esse problema de me olhar no espelho e não gostar, sempre me achei bonita.

As inseguranças que tive foram por passar muito tempo sem saber o que fazer. Não me encontrava. Era atriz e, quando comecei a fazer o canal no YouTube, antes ainda do Instagram, percebi o que amo fazer. Por ser minha página, sento ali e faço o que quiser. Bato papo com alguém, faço receita... É algo que gosto muito, mesmo não tendo quase retorno financeiro.

No Instagram, surgiu depois essa possibilidade: trabalhar em casa, estar com as crianças e poder representar marcas nas quais acredito, falar de coisas que vão facilitar ou acrescentar à vida de alguém.

Estou criando agora um projeto chamado Todas Nós. É uma plataforma que vou lançar com duas sócias de identificação feminina. Nela, as mulheres vão poder buscar outras que se pareçam com elas, direcionando o conteúdo. Uma contribuição que tirei de lição disso tudo.

Arte/UOL

Meu marido é galã, ok. Mas é um insulto resumi-lo a isso

Desde que comecei a trabalhar com as redes sociais, brinco que faço um cross media para meu marido: a imagem de galã, o Rafael faz sozinho, mas a imagem de bom marido, bom pai, a gente faz junto — eu, digo isso tirando onda da cara dele, faço a maior parte — nas minhas publicações.

Por outro lado, estar no Instagram desmistifica um pouco esse rótulo de galã que acaba aparecendo na mídia. Há uns dias, vi num site o título: "Mari Bridi diz estar em isolamento com o cara mais gostoso do mundo". É engraçado porque eles botam um título completamente fora de contexto.

Eu tinha feito uns Stories em que ele estava cozinhando e eu falei, sacaneando: "Meu Deus do céu, além de ser casada com o homem mais gostoso do mundo, ele ainda cozinha". E é brincando, porque nosso relacionamento é muito baseado nisso, a gente leva tudo na leveza, se diverte — graças a Deus!

Acho que é preciso desmistificar um pouco o que é ser "um galã". Resumir alguém a isso é quase insulto, sabe?

O Rafa não é só um cara gostoso, é muito mais do que isso. Ele estar mais sarado por causa de um personagem, o que está acontecendo no momento, por exemplo, não define quem ele é. Acho que é muito raso, é como dizer de uma mulher apenas "aquela é uma mulher gostosa". Isso não diz nada dela além de um atributo físico estipulado por um padrão de beleza social.

Mulher de quem?

Rafael sabe que nosso casamento é uma parceria e reconhece que muito do fato de ele estar onde está hoje se dá porque esteve comigo nos últimos 13 anos.

Quando começamos a namorar, ele não tinha nem estreado a primeira novela, que foi "Beleza Pura". Como a gente cresceu junto, fica um pouco difícil para mim visualizar que ele, o meu Rafa, é um "galã" para as outras pessoas.

Aí, em 2014, ele fez a novela "Império", na Globo.

Novela das oito sempre dá mais audiência, né? Ele fazia muito folhetim das seis e das sete, mas o approach é muito diferente no horário nobre. As pessoas param muito mais na rua, reconhecem. Foi quando a gente entendeu que ele tinha ido para outro patamar — já tinha feito alguns protagonistas, mas foi só aí ele deu um salto de fama.

Eu estava no final da gestação da Aurora e, nessa época, os meios de comunicação começaram a fazer matérias sobre a gente. Desde então, até hoje, elas são: "Mulher de Rafael Cardoso diz".

Parece que vira uma profissão, algo que define a gente. É óbvio que essa não é minha profissão.

É um pouco chato você achar que sua definição para o mundo é baseada na existência de outra pessoas. Mas, acho que pelo fato de eu ter um orgulho danado do Rafa, isso nunca pesou tanto.

Em casa, por exemplo, isso nunca foi uma questão. A gente caminha junto. Estive com ele em momentos muito decisivos para continuar fazendo o que ele faz e ser bem-sucedido. E me orgulho muito disso. É o NOSSO caminho, nossa história.

No fim do dia, não me define "ser esposa de", mas também não é uma coisa que eu acho pejorativa, porque não é mentira — afinal, eu sou a esposa dele. Também sou a mãe da Aurora e do Valentim! Mas tudo é ponto de vista, né?

Rafa diz que na internet quem faz sucesso sou eu, "a famosa da internet" agora. Ele até brinca que, no Instagram, ele que é "o marido da Mariana".

Na minha conta, entendi a importância de mostrar que não sou perfeita. Às vezes estou triste; às vezes, bem; outras, de saco cheio com as crianças — e tudo bem, porque é assim que sou.

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