"Demora um tempo para a gente reconhecer que tem uma relação ruim com a comida, que está no meio de uma compulsão alimentar.
Eu não sei exatamente quanto tempo isso durou, mas eu comia, comia, até não caber mais comida. Então eu vomitava, comia mais um monte e vomitava de novo. Durante as dietas, fiquei com fobia de comer fruta, porque tem frutose e, na minha cabeça, a frutose ia me fazer engordar. Um absurdo. Foi uma distorção alimentar o que eu vivi.
Eu sempre gostei de esporte e comecei a nadar com 4 anos. Quando entrei na escola, aos 7, era muito forte para o padrão das meninas da época e comecei a sofrer bullying —não era dado esse nome, mas me chamavam de menino e diziam que eu não poderia andar com as meninas, só porque eu gostava de correr, nadar e jogar bola.
Aos 12, 13 anos, eu sofria muito com isso. Entrei na adolescência tentando esconder meu corpo, porque era forte, diferente. Àquela altura, eu já era campeã sulbrasileira e tinha alguns títulos estaduais. Mas, ao mesmo tempo em que eu amava praticar esportes, também amava brincar de Barbie e cresci com aquela referência de padrão estético, de ideal feminino. Para disfarçar meu corpo e fugir das críticas, usava roupas largas, evitava usar saia e blusas que deixavam a barriga de fora.