"Desculpe o atraso. Tive que atender a uma ligação de trabalho, e parei até o carro na rua", justifica Nany People ao chegar quase duas horas após o horário combinado para a entrevista e sessão de fotos com Universa, numa tarde abafada de quinta-feira, em São Paulo. Aos 56 anos e dona de uma risada alta e fala solta, Nany quebra instantaneamente o clima no estúdio até então silencioso — até o cotonete usado para o teste da covid ela fez questão de cumprimentar, em tom de piada.
No ar como uma recepcionista de motel na novela das sete "Quanto mais vida melhor", da TV Globo, ela foi vice-campeã do reality "LOL: Se Rir Já Era", do Amazon Prime Video —o prêmio principal foi para a atriz Flávia Reis—, e está no elenco do filme "Barraco de Família" ao lado de Cacau Protásio e Lellê, que deve chegar aos cinemas ano que vem, e é integrante da 9ª temporada do "Vai Que Cola", do Multishow (ufa!). A própria artista quem gerencia a carreira. Estufa o peito para repetir algumas vezes que quem vive de "30 segundos no Instagram não segura o rojão."
"Nem tudo é fazer videozinho no Instagram e virar youtuber. É indo devagar para dar certo. Comecei na bilheteria do teatro e até chegar ao palco foi toda uma via sacra. Muita gente só funciona na internet, e quando chega na hora do 'vamos ver' não segura o rojão da plateia", afirma a mineira que nasceu em Machado, cidade de cerca de 40 mil habitantes no interior de Minas Gerais, e foi criada em Poços de Caldas, para onde se mudou aos 7 anos e viveu até os 20, quando foi para São Paulo para estudar teatro.
Registrada ao nascer com o sexo masculino, Nany foi obrigada a passar por tratamento psiquiátrico —a polêmica "cura gay"— dos dez aos 18 anos para, como ela diz, "deixar de ser veado". Tomou hormônios masculinos que, conta na sua biografia "Ser mulher não é para qualquer um" (Planeta), acabaram com sua libido. Mas, em 2003, com a benção da mãe, Yvone, assumiu a identidade com a qual se reconhece. O nome Nany é uma homenagem à atriz Nani Venâncio, famosa por causa da abertura da novela "Pantanal". Já o People foi sugestão de uma amiga drag, que dizia que Nany dava "oi" até para o hidrante. "A Nany é do povo!".
Com uma tatuagem da personagem Cinderela e a frase "Made in Poços de Caldas" escrita nas costas, ela afirma que nunca teve medo de quebrar regras: "Foi sendo arbitrária às leis que me ditaram que eu me impus na vida, com meu jeito de ser". E que nunca foi ofendida por suas escolhas. "As pessoas acham que você tem que rezar o vocabulário que elas estão ditando na hora. O respeito está acima disso."