A máquina dos caixas de supermercado faz bip bip bip ao validar as compras e o som costuma atrair às crianças. Janete Pereira, 26, conta que, há poucos dias, passava a compra de uma família quando o menino disse para a mãe que queria, um dia, ser ele o caixa para fazer bip bip bip. A mulher não gostou dos planos da criança e, na frente de Janete, exclamou: "Deus que me livre!". Foi embora com as sacolas.
Quando o turno da funcionária acabou, Janete engoliu a seco o comentário, bateu o ponto, pegou um metrô e depois um ônibus, e voltou para a casa que divide com três irmãos em Guarapiranga, na zona sul de São Paulo. Bateu uma leve vontade de chorar, que durou até o dia seguinte.
Não é incomum, e é até queixa frequente entre os colegas de trabalho, que a vida desses trabalhadores seja ignorada por alguns clientes e discriminadas em meio aos burburinhos do mercado ou comentários maldosos que ignoram a presença deles.
Segundo a Prefeitura e o governo de São Paulo, o trabalho de Janete é essencial no combate à pandemia contra o coronavírus, que já deixou centenas de milhares de mortos pelo mundo. Elas não são profissionais da saúde, mas estão na linha de frente da exposição ao risco para garantir que quem pode ficar em casa consiga abastecer a despensa.
Universa acompanhou um dia de trabalho das caixas de supermercado em São Paulo, em grandes ou pequenos estabelecimentos.