Nem só de elogios vive o poliamor. Com a expansão do conceito, vieram também as críticas. Antes o modelo de relacionamento estava intrinsecamente ligado ao feminismo. Afinal, ao longo da história a diversidade de parceiros foi um privilégio masculino: era socialmente aceito que os homens traíssem suas esposas, mas se esse comportamento partisse de uma mulher, ela sofria diversos tipos de repressões.
Sendo assim, o poliamor passou a representar um tipo de libertação afetiva e sexual para as mulheres. No entanto, recentemente ele começou a ser criticado pelas próprias militantes do movimento feminista.
Maria Gabriela Saldanha é escritora e se dedica ao tema da libertação afetiva de mulheres. Em seu livro "Bom dia, Matriarcado", questiona a forma como os novos formatos de relacionamento vêm sendo apresentados nas relações heterossexuais. "Querem nos vender o argumento de que tudo o que está fora da monogamia é um arranjo melhor e menos machista, mas isso está errado", diz.
Na sua visão, existe o risco de a sociedade criar um novo padrão ao qual as mulheres precisam atender. "O que percebo é que muitas delas estão se esforçando para se adequar a um novo modelo, sem que se deem tempo para conhecer e respeitar seus próprios limites. Agora, precisam corresponder a uma caricatura, um estereótipo de gênero da mulher bem resolvida, segura sexualmente, não competitiva e empoderada", afirma.
Ela critica o fato de muitas jovens, que ainda não tiveram uma gama suficiente de experiências afetivas, estarem sendo pressionadas a se encaixar nestes novos formatos. Além disso, Maria Gabriela acredita que, independentemente do arranjo da relação, as mulheres continuam vulneráveis a diferentes tipos de violência, incluindo a psicológica.
"Apesar da diversidade de parceiros, os novos arranjos não são garantia de que haverá responsabilidade afetiva na relação. Para que esta responsabilidade fosse colocada em prática, seria necessário que os homens enxergassem as mulheres como seres humanos completos", diz. O que ainda impede isso? A exploração emocional de mulheres dentro dos laços afetivos, que é um fator estrutural, decorrente da socialização de gênero.
É a partir dela que a sociedade internaliza que uma relação amorosa bem-sucedida seja o ápice da vida feminina. "É em nome desse ideal que muitas se sujeitam e se sacrificam, a fim de criarem um suposto vínculo com o outro".