As eleições de 2020 registraram um feito histórico: com 30 pessoas trans eleitas, a representatividade desta parcela da população nos legislativos municipais quase quadruplicou em relação a 2016, quando apenas 8 foram eleitas. Ainda assim, é inferior a sua proporção na sociedade. Após seis meses de mandato, três delas conversaram com Gênero e Número sobre sua atuação nas câmaras municipais, os preconceitos e violências que sofrem e a dificuldade que encontram para levar seus projetos adiante.
Embora de regiões diferentes do país, as experiências de Linda Brasil (PSOL/SE), em Aracaju, Lins Roballo (PT/RS), em São Borja, e Duda Salabert (PDT/MG), em Belo Horizonte, são muito semelhantes. Ao ocupar um espaço dominado por homens brancos e heterossexuais, elas enfrentam uma constante tentativa de deslegitimar suas presenças nas casas legislativas.
Estar na oposição e ser uma mulher trans leva a um silenciamento da nossa narrativa e distorção dos nossos discursos. Quando uma mulher fala, é sempre questionada. Tentam desqualificar e deslegitimar nossas pautas. Já ouvi que estava sendo desnecessária e reativa
Linda Brasil
Submetidas à violência política, elas mudam rotinas e repensam projetos de vida. A vereadora Benny Briolly (PSOL/RJ), a mulher mais votada de Niterói, no Rio de Janeiro, precisou sair do país devido às ameaças de morte que recebeu. Já Duda Salabert considera abrir mão do mandato municipal por mais segurança. "Recebi duas ameaças de morte. Se aumentarem, eu terei que pensar ano que vem em uma candidatura a nível federal para ter o apoio da Polícia Federal e mudar de cidade. Em Belo Horizonte, eu fico muito exposta", diz ela.