Luara Victoria de Oliveira, 18 anos, era a única garota entre as nove vítimas fatais após uma ação da Polícia Militar durante o baile da DZ7, em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, no início de dezembro. A jovem não morava no bairro, e morreu no beco de uma das maiores favelas da Capital, o que despertou revolta na comunidade e comoção nacional.
Mas gerou também o questionamento: "Quem mandou estar no baile?".
O pancadão da DZ7 ou do vizinho Bega, festas de rua que atraem multidões a Paraisópolis, divide a comunidade. Há quem condene, há quem arrume artifícios para ficar "de lazer" no evento que pode virar a madrugada e durar até perto do meio-dia.
É o caso de Tamires, Kariana, Suelane, Carolina, Estephany e Julia, meninas entre 15 e 21 anos ouvidas por Universa que, felizes da vida como qualquer jovem, só querem se divertir. O nome de Luara poderia estar nessa lista. Também ouvimos mães, professoras e ex-frequentadoras, que foram espantadas da bagunça pelo medo da truculência da polícia.
Como é frequentar um pancadão na comunidade sendo mulher? Curtir o rolê é "zanzar" pela multidão para ver quem colou no baile, dançar com as amigas. Pelo menos enquanto a Polícia Militar não chega na festa. Aí acaba a animação e entra o medo. Para zoar, é preciso driblar o descaso público e a ausência do Estado, como denunciam.
Nas letras das músicas e no comportamento dos homens no funk, ainda é fácil notar o machismo que atinge as mulheres do fluxo —o mesmo que garotas de qualquer classe social enfrentam na balada. Elas não se intimidam: andam sempre em dupla, mas não perdem a festa. Se tiver briga ou ação da PM, estarão juntas e não vão se perder. O que também vale para o assédio masculino.
O "proibidão" não tem esse nome à toa. Mas a postura das garotas deixa claro que, apesar da repressão policial, o evento é a principal alternativa de diversão de quem vive na periferia. E que ninguém vai proibi-las de nada.