São Gabriel da Cachoeira, onde Ednéia vive, tem cerca de 41 mil habitantes. É um município urbanizado, tem escola, comércio, hospital e, claro, acesso à internet. Ainda assim, não dispõe de leitos de UTI. "No começo da pandemia, tínhamos só sete respiradores. Agora estão chegando outros", diz. Os casos graves de qualquer doença, inclusive de Covid, precisam ser levados à capital do estado, Manaus. O acesso é por barco, com viagens cuja duração varia entre dois e quatro dias, ou por avião, em voos de duas horas.
"Fiquei sabendo sobre o coronavírus por meio das notícias e das redes sociais. Mas, no começo, não imaginei que chegaria aqui no nosso município, nem que eu poderia pegar essa doença", afirma ela, que, em meados de abril, acabou se contaminando e precisou ficar afastada do trabalho. Além dela, o filho de 9 anos, o sobrinho, de 18, e a sobrinha, de 14 anos, que está grávida de quatro meses, também se infectaram, mas agora estão recuperados.
"Começamos a ficar com medo quando vimos a situação na Itália e, em seguida, quando o vírus chegou no Brasil. Aí a gente recorreu aos nossos conhecimentos tradicionais para cercar o nosso povo, para a gente não pegar o vírus ou não ser muito afetado por ele. E, em seguida, começamos a articulação para proteger as pessoas, principalmente com informação", conta.
Quando, em março, o Amazonas confirmou o primeiro caso de Covid no estado, Ednéia disse que chegou a pensar em não sair de casa. "Eu tinha muito medo de ficar doente, de passar isso para minha família, ainda mais porque convivo com profissionais de saúde. Mas, em seguida, pensei que o meu papel poderia salvar vidas. Então, segui em frente."
A federação em que Ednéia atua é responsável por apoiar os indígenas de outros dois municípios, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, ambos na divisa com a Venezuela.