A pornografia é, indiscutivelmente, (e com o perdão pelo trocadilho) uma mão na roda para quem busca prazer e excitação instantâneos em um mundo onde nada pode ser muito caprichado ou demorado. Os vídeos eróticos podem ser vistos como recursos de prazer tão inocentes quanto brinquedos de sex shop -- mas quase nunca são. Há algum tempo, ativistas e sexólogos vêm debatendo o quanto o consumo de conteúdo pornográfico em filmes, no YouTube ou nas redes sociais são potencialmente nocivos à sexualidade de homens e, especialmente, das mulheres.
O pornô mainstream -- aquele oferecido de graça na internet e amplamente consumido em todas as partes do mundo -- propaga uma infinidade de distorções do que é o sexo na vida real. Fora das telas, as mulheres raramente curtem ser penetradas sem preliminares, não têm a vulva sempre cor de rosa e não costumam gozar em um passe de mágica durante uma penetração estilo britadeira.
Toda uma geração de homens e mulheres construiu sua sexualidade assistindo a cenas que reproduzem estereótipos, estabelecem parâmetros equivocados e criam expectativas impossíveis de serem atingidas. Ruim para todos.
É por isso que parte da nova onda do feminismo tem questionado o consumo da pornografia. "Quando falamos em pornô mainstream, falamos em male gaze: tudo é roteirizado através do olhar masculino. A gente não encontra, por exemplo, cenas longas do cara fazendo sexo oral na mulher, mas o contrário, sim", explica Bruna Borelli, mestre em Estudos Culturais pela Universidade de Lisboa. No Brasil, a audiência de pornografia gratuita é majoritariamente masculina (39% de mulheres para 61% de homens, segundo o Pornhub, o maior site de pornografia do mundo).
Para Daniel Cardoso, pesquisador da Manchester Metropolitan University, o mais saudável é discutir as pornografias no plural. "Falar de pornografia no singular pode ser simplista. A pornografia produzida com ética, ou pós-pornografia, pode ter um papel importante para construir uma cultura sexual mais inclusiva de corpos, de identidades e de práticas", explica.