As candidatas à prefeitura do Rio firmaram compromisso de manter o respeito mútuo durante a corrida eleitoral, sem agressões. Por que escolheu fazer parte desse acordo?
A violência política é uma realidade terrível para nós, mulheres, nos parlamentos e não será diferente na corrida eleitoral. Sou atacada diariamente nas redes e na Assembleia Legislativa do Estado. Em tempo de política do ódio e das fake news, precisamos fazer diferente. Não se trata apenas de um acordo entre mulheres. Na verdade, estamos liderando uma nova cultura política, que nos inclua de fato. Sem uma política inclusiva e generosa, não vamos conseguir melhorar a vida do povo e reduzir as desigualdades. Não faço a política da destruição.
Por que esse acordo foi feito apenas entre as candidatas mulheres?
Porque nós mulheres nos importamos. Semear o ódio, como fazem [o prefeito do Rio Marcelo] Crivella e [o presidente Jair] Bolsonaro, é andar para trás. Insistir nos esquemas de sempre, como propõe o [ex-prefeito e também pré-candidato Eduardo] Paes, só vai aprofundar a crise da cidade. E porque o que está acontecendo é inédito, termos tantas mulheres pré-candidatas em uma cidade que nunca teve uma prefeita. Quem nasceu e cresceu na favela, como eu, sabe a diferença que faz ser respeitado. Isso, em si, já faz sentido para mim, que luto desde sempre pela vida das mulheres, em especial das mulheres pretas. Que são as principais vítimas de violência doméstica e obstétrica e de feminicídio, porque são vítimas de dois gatilhos fatais: o machismo e o racismo.
Apoiaria qualquer outra candidata se ela chegasse ao segundo turno?
O apoio no segundo turno depende de uma decisão partidária. Uma instância importante que precisa ser coerente à afinidade política e programática. No cenário desenhado hoje das pré-candidaturas de homens, o PSOL só poderia apoiar mesmo uma mulher no segundo turno.
Acredita que candidatas mulheres à prefeitura do Rio têm objetivos e entraves comuns, independentemente do partido em que atuam?
Sim. Nós, mulheres negras, sofremos todo tipo de assédio e violência. Além do machismo e do racismo, não somos ouvidas sobre os problemas da cidade. Quem conhece melhor o SUS e as Clínicas da Família? A mulher das favelas, dos bairros da zona oeste, da zona norte. Que leva o filho e conhece o médico e o enfermeiro pelo nome. Quero ouvir a voz de quem é silenciado, das mulheres pretas, dos trabalhadores, do povo pobre. Quem hoje é invisível vai ser escutado. E não quero falar só sobre machismo e racismo. Quero ser ouvida e quero ser perguntada sobre recuperação da cidade, emprego, renda. Tenho planos para o Rio.
Quais são suas principais propostas? E o que pretende propor especificamente para melhorar a vida das mulheres?
Vou organizar um pacto municipal pela igualdade salarial entre mulheres e homens. Vou liderar a cidade e os cariocas pelo exemplo. Começando pelo meu secretariado, que terá paridade entre homens e mulheres. Além disso, na máquina da prefeitura, vamos ter incentivos para a promoção de servidoras. Vamos estimular as empresas que recebem incentivos fiscais a adotarem políticas salariais que levem em conta a equidade de gênero. Outra prioridade é a criação de um fundo para as creches, o Funcreche. A fila da creche chega a 35 mil pessoas esperando por uma vaga. São mães que moram em lugares distantes do trabalho e precisam desesperadamente de uma vaga. Além disso, colocaremos as Clínicas de Saúde da Família para funcionar e resolveremos a fila de exame e consultas. Porque também não adianta ser atendido na clínica se não consegue um exame, uma consulta com especialista. Criaremos Casas de Partos com os critérios do Sistema Único de Saúde e também em regiões insulares como a Ilha do Governador e Paquetá.
O fato de haver seis pré-candidatas mulheres é louvável, mas você não teme que isso possa pulverizar o voto das mulheres e acabar ajudando a eleger um homem?
Essa pergunta jamais seria feita para um homem. Esse tipo de olhar revela um pragmatismo político que é machista, despreza as capacidades e especificidades de cada uma de nós. Nós, mulheres, assim como os homens, somos diversas, temos histórias e qualificações profissionais e políticas diferentes. O Rio terá a oportunidade de eleger uma mulher, entre várias de nós, levando em conta os nossos projetos políticos. As políticas públicas que eu defendo, por exemplo, são para superar as desigualdades entre homens e mulheres, ricos e pobres, pretos e brancos. Faremos dessa cidade um Rio de gente, do bem viver, com propostas concretas para uma vida digna para cariocas.