O protagonismo de Marilda e equipe não é recente. No final de 1997, um vírus influenza, o H5N1, circulou em Hong Kong. Só 18 pessoas foram infectadas, mas a porcentagem de mortes foi altíssima: 10 pacientes faleceram. O surto mostrou que os países precisariam se preparar melhor para uma possível pandemia de gripe. Marilda propôs ao Ministério da Saúde, então, a criação de uma rede de vigilância de influenza, o que foi realizado junto dos institutos Adolfo Lutz e Evandro Chagas.
O plano contra gripe estava pronto, quando uma outra ameaça chegou. Em 2003, um surto de coronavírus, então conhecido como causador da Síndrome Respiratória Aguda (Sars, na sigla em inglês), causou cerca de 8 mil infecções e 774 mortes em Hong Kong. "No início, ninguém sabia no mundo o que era. Então, montamos um grupo multidisciplinar na Fiocruz, com virologistas, bacteriologistas, micologistas", lembra. O vírus não chegou a deixar Hong Kong, mas o Laboratório comandado por Marilda, estava pronto para enfrentá-lo. "Situação semelhante aconteceu em 2013, quando outro coronavírus, o Mers surgiu no Oriente Médio. Assim que a OMS emitiu o comunicado, implementamos os protocolos no Brasil".
Em 2008, como integrante do Sistema Global de Resposta à Influenza, da OMS, Marilda estava a caminho de uma reunião em Genebra, na Suíça, quando o órgão emitiu um alerta de que um influenza pandêmico, o H1N1, estava circulando. De volta para o Brasil, a virologista começou os testes de amostras e treinamento de outras equipes do país. Foi um trabalho intenso. "Para se ter uma ideia, o nosso laboratório recebia uma média de mil amostras por ano até 2008. Em 2009, recebemos 18 mil em apenas seis meses".
Tais experiências deram as bases para a atuação fundamental da virologista e sua equipe no enfrentamento da atual pandemia. Apesar de cansaço acumulado em tantos dias de trabalho ininterrupto, ela continua cheia de energia para trabalhar. Às 7h da manhã já está a postos. Dia desses, o cansaço estava começando a afetar seu humor. "Eu precisava descansar, porque estava começando a ficar triste. Então liguei o Netflix e assisti 'Guerra nas Estrelas', que eu adoro, até uma da manhã", diz. Para quem se pergunta se algum dia teremos a vida pré-pandemia de volta, ela deixa um recado darwniano: "Precisamos nos adaptar se quisermos sobreviver."