George Floyd é sufocado até a morte por um policial, nos Estados Unidos. Uma mulher negra de 51 anos é pisoteada no pescoço por policial em São Paulo. Motoboy é humilhado com ofensas racistas dentro de condomínio no interior de São Paulo. Cliente é arrastado de loja ao tentar trocar presente de R$ 300 para o pai em shopping do Rio. Um jovem sofre ataque orquestrado nas redes após deixar o cabelo crescer. Um garotinho de 5 anos morre depois de ser deixado sozinho em um elevador no Recife.
A população negra não tem um segundo de paz. Precisamos respirar.
"Eu não tenho filhos. Mas, quando aconteceu o assassinato de Miguel, o menino de Recife, eu passei vários dias chorando, enlutada, porque é um caso que suscita nosso sofrimento secular. Há tanto racismo na história, que eu fiquei imobilizada."
O comentário é da psicóloga Jeane Saskya Campos Tavares, criadora do perfil @saudementalpopnegra, no Instagram, que conta com 85 mil seguidores. Na página, ela compartilha conhecimento científico sobre saúde mental de negros e negras —em geral pouco abordada pela psicologia—, e defende a necessidade de união, no sentido do aquilombamento.
Colhendo os efeitos da escravização dos ancestrais, individual e coletivamente, a população negra quer ser mais do que dor —e é. Quer se curar, libertar-se do banzo.
Mas como não cair em sofrimento em um país em que a maioria dos que sofrem é negra? Como ter forças para ser fraco? A militância negra pode descansar, como tanto pede o jargão nas redes sociais?
Neste especial, psicólogos, pesquisadores e ativistas, como a atriz Zezé Motta, pensam sobre o que é ser negro em tempos que nos tiram o ar. Falam de afetos, resistência e práticas de autocuidado, potencializadas em grande parte pela ancestralidade que carregam. Ensinam a cicatrizar as feridas que, todos os dias, teimam em não fechar.