Para começar essa conversa, é preciso atentar antes para um número: dos 212 milhões de brasileiros, 46,8% são pardos. Para deixar ainda mais explícito: quase metade da população do país é formada por pessoas que são brancas demais para serem pretas e pretas demais para serem brancas.
Apesar de conter uma parcela dos descendentes indígenas, os pardos passaram a ser reconhecidos como representantes da população negra brasileira após um longo empenho de movimentos sociais nos anos 70 e 80. O objetivo era consolidar uma identidade, a negra, e, a partir disso, somar forças no combate à desigualdade social.
As pessoas pardas somadas às pretas compõem a população negra (56%), maioria no Brasil. Mas o lugar do pardo é de fronteira. Historicamente, é também fruto da miscigenação. Para quem é pardo, ouvir a frase "Você nem é tão negro assim" faz parte do cotidiano. Mas como é estar em uma categoria racial "no meio"?
Para algumas pessoas, refletir sobre como se vê e como é visto pela sociedade resulta em um processo de se descobrir negro. É quando assumir quem se é, aceitar os traços da "parcela preta" que o constitui, transformam um passado de tentativas de embranquecimento em orgulho de ser negro. E é esse o movimento que vemos hoje - e que tende a crescer. Uma projeção da consultoria Tink Etnus diz que 70% dos brasileiros vão se autodeclarar negros nos próximos três anos.
Depois de uma discussão histórica sobre a mestiçagem, passando pelo estereótipo de "degenerado" e pela exaltação da mulata, culminando no mito da democracia racial, o pardo ganha a possibilidade de outra identidade: negro de pele clara, sem meio-termo. Essa negritude, como diz a colunista Bianca Santana, não será negociada.
Como não há uma tabela de cor para dizer quem é negro, e o determinismo biológico ou genético tem, no fundo, cunho racista, o pardo também é fruto de uma construção social, e se transforma com o passar do tempo.
Com experiências individuais, coletivas e sob o olhar sociológico e histórico, oito entrevistados por Universa constroem a seguir análises da questão racial no Brasil e contam o que a miscigenação e as tentativas de branqueamento fizeram de nós. Com isso, Universa quer estimular uma discussão transformadora, em que todos nós possamos nos ouvir. Compartilhe e argumente em nossas redes sociais ou nos conte o que você pensa por meio do universa@uol.com.br.