"Como fazemos todos os anos, recebemos em nossa igreja o grupo OK. E hoje, de uma forma especial, eles estão comemorando 53 anos de convivência. Eu sempre disse: que seja um grupo de unidade, amor, carinho. Principalmente com aqueles que estão envelhecendo e precisam de apoio".
O sermão, proferido por um padre, no filme "O Clube", de 2014, foi dirigido a uma igreja, cujos bancos estavam forrados de senhorzinhos, na sua maioria, homossexuais. O curta-metragem, que mistura ficção e realidade, é um dos poucos registros de uma turma do barulho, a OK. E a parte da missa é realidade.
A Turma OK é um grupo de "senhoras e senhores", como eles gostam de falar, homossexuais, bissexuais e transgêneros, que nasceu no coração da Lapa, no Rio de Janeiro, em 1961. Eles se consideram o primeiro grupo LGBTQ+ do Brasil; não de militância, mas de pessoas que se reuniam para se divertir --e de um jeito muito particular.
Os tempos ainda não eram os bicudos da ditadura, mas a preocupação em não "dar pinta" era importante, uma vez que o linchamento moral e a abordagem policial em cima de quem era "bicha", quase sempre eram violentíssimos.
Assim, em inescrutáveis apartamentos do bairro carioca, membros da Turma OK, em sua maioria, homens com mais de 50 anos, se transformavam em suas divas preferidas --Liza Minnelli era a número 1 - e, entre emocionados e orgulhosos, performavam números de dublagem. Os encontros aconteciam sempre à noite, juntavam entre 10 e 15 pessoas e tinham de ser num volume bem baixinho. As palmas eram substituídas por estalos de dedos.
A morte de muitos da turma por causa da repressão militar e, mais tarde, da Aids, baqueou a Turma OK. Localizada hoje num sobrado de ares português, no centro do Rio, perto de outros marcos da região, como a Gafieira Estudantina e o Bloco Cordão do Bola Preta, a confraria luta para se manter de pé.