"Há uma grande revolução sexual feminina em curso"
Ainda que em nosso imaginário infantil as bruxas sejam lembradas como figuras com aparência medonha, a história mostra o contrário. Muitas das mulheres queimadas em fogueiras durante a Idade Média eram jovens, solteiras ou viúvas, donas da própria sexualidade e que provocavam medo nos homens — ou um tesão inexplicável que, para eles, só poderia ser bruxaria.
"Eu sou uma bruxa", diz a sueca Erika Lust, 44, por videochamada a Universa, do apartamento onde vive em Barcelona. Dona de um império que leva seu nome, com quatro plataformas de streaming e assinantes ao redor do mundo (inclusive no Brasil), a cineasta revolucionou a indústria de filmes pornô justamente ao escancarar, sem medo de julgamentos, essa sexualidade feminina que até hoje provoca medo nos homens. Ela não vai para a fogueira.
Em vez de representar os delírios de desejo masculinos, como no pornô tradicional em que a mulher é apenas um acessório para que eles gozem, o olhar de Lust é direcionado ao prazer e à satisfação das personagens femininas. A ideia, diz, é mudar o discurso generalista sobre sexo, incitar as mulheres a explorar a própria libido e a não se ver como ferramenta à mercê do prazer do homem. "Há uma grande revolução sexual feminina em curso", afirma a diretora, que trocou seu sobrenome sueco Hallqvist, pelo artístico Lust (luxúria, em português).
Ao longo de 16 anos, suas produções também inovaram ao dar ao conteúdo pornográfico uma linguagem cinematográfica, com narrativa e qualidade estética de filmes "cult". Mas que não se restringem a um nicho de mercado: em 2020, com a pandemia, a ErikaLustFilms faturou R$ 40 milhões disponibilizando conteúdo adulto por meio de assinatura.