"Ivete, por que Margareth Menezes não é tão gigante quanto você?". A pergunta partiu da atriz Taís Araújo em uma live com Ivete Sangalo no início da pandemia, em que as duas falavam sobre a pouca representatividade negra em diferentes espaços no país. "É um absurdo. É uma determinação totalmente intencional", respondeu Ivete, dando a entender que a questão racial também está presente no axé music.
Para Margareth, 58, precursora do movimento musical e uma das principais artistas do país, é o racismo estrutural que faz com que ela não tenha o mesmo apelo comercial e a visibilidade de suas colegas Ivete, Daniela Mercury e Claudia Leitte. "Está descrito no próprio sistema, né? Não vamos omitir os talentos individuais, com certeza alguma coisa especial elas têm para serem artistas", diz ela por videochamada a Universa, de sua casa em Salvador (BA).
Em fevereiro, enquanto algumas dessas cantoras já tinham patrocínio garantido para fazer lives no período que, se não fosse pela pandemia, seria de Carnaval nas ruas, Margareth não havia conseguido apoio. Foi apenas na Quarta-Feira de Cinzas que Maga, como os mais próximos a chamam desde pequena, fechou uma parceria com o canal Multishow para apresentar o "Baile da Maga".
A Bahia é um lugar de muito racismo estrutural, muito mesmo, dos blocos de Carnaval, dos grandes empresários. Os da indústria do axé music são todos brancos e sempre privilegiaram esse lugar, infelizmente. Então, até os grandes blocos afros daqui, o Olodum, Ilê Aiyê, têm dificuldade para ter patrocínio. É como se não tivessem valor. Mas a música que faz sucesso, que tem a estética da Bahia, é a trazida pelo povo negro daqui
Em 34 anos de carreira, Margareth acumula 23 turnês internacionais e quatro indicações ao Grammy. Em 2004, foi chamada de a "Aretha Franklin brasileira" pelo jornal Los Angeles Times — ela, no entanto, prefere reverenciar as artistas que fizeram com que "entendesse" seu lugar no mundo, como Ângela Maria, Clara Nunes e Zezé Motta.
Hoje, com tantos anos de estrada, diz que tem uma regra: só canta o que lhe toca o coração. "Com 34 anos de carreira, tenho essa chancela; o que não significa uma limitação. Mas, se não mexer no meu coração, fica difícil eu repetir."