Sabrina no divã

Depois de se tornar mãe, a apresentadora mergulha na terapia para se reencontrar na vida e no relacionamento

Luiza Souto De Universa UOL

Casamento estremecido, medo do espelho e culpa por ficar longe da filha. Sabrina Sato não fugiu à regra das mulheres que entram em um turbilhão emocional com a chegada da maternidade. Só agora que Zoe tem 3 anos, a apresentadora de 41 consegue revelar com mais tranquilidade como foi difícil encarar a nova realidade. Logo que a menina nasceu, ela perdeu o chão e concluiu: "Acho que meu relacionamento vai para a UTI. Não sei mais o que a gente faz".

A união de seis anos com o ator Duda Nagle, 38, ganhou sobrevida na terapia. Com ajuda profissional e um esforço dos dois para ajustar a rotina, prevendo mais tempo juntos, o descompasso foi diminuindo. Mas não o suficiente para navegar em mares calmos. Recentemente, boatos sobre uma possível separação colocaram a relação em xeque de novo. "Os boatos não nos afetam, mas é algo que só depende da gente. O relacionamento precisa amadurecer, e estamos cuidando dele."

As sessões de terapia deram suporte também para Sabrina lidar com a culpa de ficar distante da filha quando precisava trabalhar ou, principalmente, ficar um tempo sozinha. "Tenho uma relação muito forte e insubstituível com a Zoe", diz. Por essa ligação, todas as horas que tinha disponíveis foram doadas à maternidade. "Demorei para voltar a me sentir mulher."

Trabalhando cada vez mais para dedicar o tempo devido a cada área da vida —negócios, família e autocuidado— sem tantas cobranças, Sabrina diz que a troca com outras mães e com sua rede de apoio, que inclui amigas, mãe e irmã, foi essencial para ir, aos poucos, voltando aos eixos. "Nós, mulheres, damos força uma à outra nesse momento. É muito importante que a gente se respeite, não julgue, não critique, porque cada uma tem sua história. Isso fez toda a diferença para mim."

João Viegas/Divulgação

Beijar na boca

Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, Sabrina destaca a importância das pautas femininas e feministas serem lembradas diariamente. "O respeito à integridade das mulheres precisa ser o primeiro passo", diz. "A cultura machista faz com que milhares delas ainda sejam abusadas, espancadas e assassinadas simplesmente por serem mulheres. A violência de gênero está presente desde nas agressões verbais até no feminicídio."

Sabrina admite ocupar uma posição privilegiada na sociedade, o que inclui estar sempre rodeada de muita gente, quase que blindada. Talvez por isso não tenha passado por situações de assédio, nem mesmo quando era uma das poucas mulheres na equipe no "Pânico na TV", no início da carreira.

"Nunca baixei a cabeça, desde criança. Não me preocupo com o que as pessoas falam. Uso a roupa que tenho vontade, sempre fui muito livre em relação aos meus pensamentos, a minha forma de agir, para beber, beijar na boca de quem eu quisesse. E essa é a dica que dou para todas as mulheres: não se deixem intimidar."

A postura independente tem origem na sua criação, uma família majoritariamente feminina, de avó agregadora, seguida por sua mãe e tias "corajosas, independentes, à frente de seu tempo". "Eu e a Karina [Sato Rahal, irmã] seguimos o mesmo caminho", pontua ela, natural de Penápolis, cidade do interior paulista.

Reprodução/Instagram

Mãe e filha: um relação única

Para Sabrina, ainda é difícil lidar com o tempo que passa longe de Zoe. Voltar a trabalhar e ficar distante da filha, ela relembra, foi um dos períodos mais complicados. Mas diz que essa fase passa depois que a mãe enxerga a necessidade de retomar sua própria rotina.

"Eu demorei para voltar a me sentir mulher. Um dia falei para a terapeuta que não ia conseguir fazer a sessão online por causa da Zoe. E ela disse: 'Mas é ela que manda na sua vida? Cadê seu momento?'. A gente não pode virar refém, né?"

E, embora afirme que os cuidados da filha são divididos igualmente entre o casal, admite que carrega o pensamento de que é dela que a filha mais precisa. "Tenho uma relação muito forte e insubstituível." Hoje, trabalha essa ligação na terapia, para que o seu tempo seja melhor distribuído na rotina familiar.

Sabrina educa Zoe para ser livre e dona de suas escolhas. Ajuda também a menina entender as possíveis composições familiares. "Ela tem amigas que são filhas de duas mães e fala 'que sorte dessa minha amiga.'" E encontra suporte nos livros, como o "Para Educar Crianças Feministas", da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

"Traz um olhar esclarecedor de como criar filhos dentro de uma perspectiva feminista e a importância da formação igualitária para as crianças. Essa visão é o futuro, para que nossos filhos não façam distinção da capacidade entre mulheres e homens e saibam conviver com as diferenças."

Encher a cara

Quando Sabrina saiu do "BBB", em 2003, seu pai, Omar Rahal, reuniu o caçula Karin, na época estudante de administração, e a primogênita Karina, então advogada no Grupo Votorantim, para trabalharem juntos pelo mesmo objetivo: realizar o sonho de Sabrina de ir para a TV.

Criaram, então, a Sato Rahal Empreendimentos Artísticos, que hoje cuida de 20 artistas incluindo Dona Kika, a mãe de Sabrina, e que virou youtuber. "A empresa só cresceu graças ao trabalho deles. Não seria nada sem as mulheres que me fizeram estar onde estou", elogia ela.

Sabrina confere a esse "exército" o sucesso de sua organização pessoal, uma rotina que começa às 5h30. "Li muitos livros de autoajuda, como 'O Milagre da Manhã', para me convencer a acordar cedo", ela ri. "Meu maior poder é ter uma rede de apoio". Com esse suporte, consegue dedicar um horário no dia para si mesma, onde vê filmes, lê livros, "enche a cara com as amigas."

"Eu tinha tudo para dar errado, tanto no pessoal como no profissional, eu demorei para amadurecer, mas sempre tive apoio. Tenho amigas que não vão atrás de seus sonhos porque ficam preocupadas com o que os outros vão pensar. Você não tem que ligar para nada disso. Faça o que tiver vontade e foda-se o resto."

"Sofri tanto com rótulos que foram me dando ao longo da vida e carreira que sou muito a favor de a gente criar nossa própria história e se livrar deles."

Saber administrar nosso tempo e se conhecer de novo é muito importante. Eu consigo entender todas as mulheres que amam ser mães e consigo entender as que não querem também. Continuo com meus medos, mas também tenho muita vontade de ser mãe mais vezes.

Sabrina Sato

João Viegas/Divulgação João Viegas/Divulgação

Mulheres inspiradoras, por Sabrina Sato

Elke Maravilha

"Lembro que assistia ao Silvio Santos e achava a Elke demais, pela coragem e autenticidade. Isso mexeu comigo. Hoje em dia revejo algumas entrevistas no TikTok e penso que não estava errada sobre ela quando criança."

Taís Araujo

"É uma amiga que sempre dá força para outras mulheres. Na primeira viagem que fiz sem a Zoe, ano passado, deixei compromissos e vim embora chorando para ver minha filha. Ela que me deu um abraço e falou que eu ficaria bem."

Gloria Maria

"Uma vez, fui entrevistar alguém em inglês e comentei que não sabia falar. A Gloria disse: 'você vai arrasar. Todo mundo te entende com seu sorriso'. São palavras muito importantes e que precisamos encontrar umas nas outras."

Tento seguir meu coração. Quando você tem certeza do que é nada vai te abalar

Sabrina Sato

Maltoni/Divulgação Maltoni/Divulgação

Mulheres, se olhem...

Após o nascimento de Zoe, Sabrina constatou: "Acho que meu relacionamento vai para a UTI. Não sei mais o que a gente faz". Ela conta que não conseguia mais enxergar tempo e disposição para cuidar de si, tampouco do casamento. Pediu ajuda profissional, assim como passou a ajustar sua rotina com a de Duda, incluindo saídas a dois.

"Estava vivendo tanto a maternidade que não olhava para os meus sentimentos, não me dava tempo. Você precisa voltar para você. Se você não se aprofundar nesse sentido, não vai conseguir se amar para poder também melhorar seu relacionamento. Vai virando só pai e mãe."

E em meio a notícias de que o casal, junto desde 2016, estaria se separando, a apresentadora diz que os dois estão atentos à relação.

"Esses boatos não nos afetam. Sei que ninguém nos quer mal, e sim ajudar, mas é algo que só depende da gente. O relacionamento precisa amadurecer, e a gente está cuidando dele."

João Viegas/Divulgação João Viegas/Divulgação

... e se toquem

Durante a conversa, Sabrina lembra que leu em Universa uma matéria sobre vibradores. "Falava que vibrador viciava, né? Me peguei pensando: 'Será que estou viciada? Vou parar, fazer um detox disso'. Tenho uma coleção enorme, é bom demais".

Quando a apresentadora Angélica falou que usava vibrador no "Cada um no seu banheiro", no canal do YouTube de Sabrina, centenas de internautas --a maioria homem-- destilaram ignorância ao dizer que Luciano Huck, marido de Angélica, não dava conta do recado, como se o aparelho servisse como um consolo e disputasse lugar com seu companheiro.

Para Sabrina, o desconhecimento sobre o tema "é puro recalque", e incentiva as mulheres a se masturbarem ainda mais. "O vibrador vai ajudar a mulher a se conhecer. Quanto mais a mulher se conhece, mais ela vai gozar e sentir tesão pela vida."

Sempre fui bem livre no sentido de me tocar, de falar sobre o assunto com as amigas, minha irmã e meus parceiros.

Maltoni/Divulgação Maltoni/Divulgação

De casa nova

De fala acelerada e emendando um assunto no outro, Sabrina se define como uma pessoa que não se cansa do trabalho. Só quando a irmã mais velha, Karina Sato Rahal, sua empresária artística, marca inúmeras reuniões. "Isso me cansa ", provoca.

Agora, o volume de compromissos só tende a aumentar, já que a partir do mês que vem ela passa a comandar um reality show no GNT. Sem permissão para dar detalhes do programa, limita-se a dizer que tem sido gostoso trabalhar na nova casa, e que trará questões ligadas a sua história e família. Embora tenha assinado contrato com a Globo depois de ter passado por RedeTV!, Band, RecordTV e apresentado uma série na Netflix, "Reality Z", Sabrina não considera ter chegado ao topo da carreira.

"Acho que a gente nunca vai alcançar nada 100%. Para mim, o caminho tem que ser com diversão e aprendizado. Em todos os lugares onde trabalhei vou cruzando novamente com as pessoas, e isso é o mais legal. Muitas ex-estagiárias me dirigiram anos depois. Aí vejo como estou velha", brinca.

"Para poder dar conta e não me cobrar tanto, entendi que estou em um momento de fazer as minhas escolhas."

Queria que essa fantasia fosse eterna

Rainha de bateria da Vila Isabel desde 2011 e da Gaviões da Fiel desde 2019 --começou na escola paulistana como musa em 2004--, Sabrina terá um desafio a mais no Carnaval deste ano: com o adiamento dos desfiles das escolas de samba no Rio e em São Paulo por causa da pandemia, a mesma data foi marcada para a passagem das agremiações na avenida. Para conseguir estar presente em ambas, a solução será contar com a ajuda de um helicóptero ou jatinho, mesmo que causem pavor.

Apesar de estar quebrando a cabeça junto a sua equipe para dar conta dos compromissos carnavalescos fora de época, Sabrina afirma que dá um jeito. Sua preocupação mesmo, ela atenta, é com os trabalhadores da festa, que vivem disso o ano inteiro. Não entrega, no entanto, se concorda com o adiamento da festa.

"Na minha avaliação, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Eu tento entender todos os lados, mas festas, jogos e muitas outras coisas já estão acontecendo e a gente está vendo."

Por mim, ficaria fantasiada o ano inteiro."Eu gasto, invisto mesmo, porque Carnaval é o que eu amo. A festa é a tradução perfeita da minha personalidade.

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