Símbolo de uma geração que cresceu compartilhando com o público tudo o que vivia, mas pouco do que sentia, Viih Tube mal tinha deixado de ser criança quando lançou seu canal de vídeos tal como é hoje. Nascida no interior paulista e criada em uma família religiosa —mãe evangélica e pai católico—, o sonho de estudar medicina foi deixado pelo talento que logo cedo aflorou: o da comunicação. Aos 8 anos, Vitória Felício Moraes já frequentava o curso de apresentadora mirim para aprimorar esse dom.
Foi natural, então, que sua desenvoltura frente às telas se revelasse muito cedo, ainda que produzir conteúdo para o YouTube não fosse tão bem visto na época. "Sofria bullying na escola. Naquela época, era vergonhoso se nomear como influenciadora digital. Eu só queria ter um hobby, me divertir", relembra. Mas nada comparado ao que ela enfrentaria poucos anos depois: o cancelamento nas redes sociais —e não só uma vez. Ela descobriu rápido que o tribunal da internet —e o comportamento imediatista da sua geração— não deixa passar uma falha, um nude, um vacilo sequer.
Teve uma foto íntima vazada aos 14 anos; sofreu linchamento virtual por um vídeo politicamente incorreto; enfrentou um episódio grave de agressão física, além de julgamentos alheios e situações de abuso. Tudo isso levou Viih Tube a entrar, como ela mesma diz, em uma caixinha do medo, um lugar escuro e solitário onde em muitos momentos não enxergava a saída. Dali, por duas vezes tentou não mais voltar.
Esses e outros dramas de quem escolheu se expor desde menina nunca entraram no roteiro de seus vídeos e lhe custaram sua saúde mental. Agora, aos 21 anos, Vitória se sente pronta para falar. "Hoje entendo que mostrar minhas fraquezas e reconhecer que sou vulnerável ajuda outras mulheres a perceberem que é comum e que elas também podem precisar de ajuda."