Por volta dos 20 anos, eu, que sou lésbica, vivi meu primeiro relacionamento amoroso sério com uma mulher. Foram quase 2 anos, entre muitas idas e vindas, bem conturbado. Hoje, 11 anos depois, essa relação teria sido chamado de abusiva, mas, à época, eu nem conhecia essa terminologia. O que eu vejo com muita clareza, uma década depois, é como aquela relação foi permeada por outro termo que eu também não conhecia lá em 2010: a gordofobia.
Eu sempre fui gorda. Ou gordinha. Ou fofinha. Tive fases magras, mas no geral sou gorda desde a infância. E sempre fui vaidosa e cheirosa. Então me surpreendi quando, em um dos términos desse relacionamento que vivi, ela disse que perceber o fato de que eu não me cuidava muito fez com que ela não quisesse estar comigo. Não que pessoas não vaidosas não possam se cuidar de outras formas, mas aquela fala não fazia sentido. Assim como não fazia muito sentido em dois anos de relacionamento, eu não ter sido apresentada a nenhum amigo dela (à exceção de uma que também era gorda).
Voltamos a namorar pouco tempo depois desse término. Eu era muito apaixonada e o sexo com essa ex-namorada se tornou um suplício. Eu queria compensar na cama, de qualquer jeito, o fato de ser gorda. E fazia coisas que não me deixavam confortável nem muito menos eram prazerosas para mim. Sempre encolhendo a barriga. De preferência, de luz apagada.
Hoje entendo que aquele "não me cuidar muito" ao qual ela se referiu tinha a ver com não ser magra e ousar ser feliz com meu corpo. Com o fim desse relacionamento, o passar do tempo, a maturidade, discussões propostas nos últimos anos e a troca com outras mulheres gordas, assim como eu, vi que aquele comportamento afetivo/sexual era um padrão, vivido por muitas. A história de mulheres gordas e suas relações narradas a seguir são inspirações que mostram que o amor não se mede por IMC.