A professora Priscila Borges Alves, 35, deu início ao tratamento para engravidar em 2017, após perder duas gestações e uma das trompas. Logo na primeira coleta dos óvulos, teve a bexiga perfurada. Recebeu a notícia da segunda gravidez química no dia em que conversou com a Universa. Ainda com o olhar distante, desabafa: "não sei se vou continuar".
"Cheguei na primeira consulta com a data do nascimento do meu filho na cabeça, mas é algo muito além do que a gente espera. É um processo demorado, porque as consultas dependem do ciclo menstrual, de uma bateria de exames, e da agenda cheia do hospital. Você tem que comparecer quando eles marcam.
Antes de iniciar o tratamento mesmo, se estiver acima do peso, ainda tem que emagrecer. Perdi 15 quilos em dois meses, e quando comecei a tomar hormônio, ganhei quatro em uma semana. É uma dedicação de 100% das suas energias. Muitos até perdem emprego.
É uma montanha russa de sentimentos: quando vê o resultado positivo, se anima, começa a falar para algumas pessoas, faz toda uma projeção. Aí perde em seguida. Passa na sua cabeça cada minuto do que aconteceu nesse período para tentar achar uma explicação: se comeu direito, se não tomou o remédio na hora. É um sentimento de culpa. Então tem que fazer o que o médico mandar, porque quando não der certo, você vai olhar para trás e falar: 'a culpa não é minha. Estou em paz'.
Ainda tem a possibilidade de fazer o segundo ciclo, mas não sei se estamos dispostos. Existe um limite para tudo. A maternidade sempre foi algo que projetamos, mas não é isso a nossa vida. Se a gente fica nessa busca infindável, se torna uma pessoa amarga, que não consegue ver beleza em nada, nem na sua amiga que está linda grávida, ou mesmo nas crianças que chegam perto de você. É complicado".