Quando a mulher se libertou dos espartilhos, na década de 1910, surgiram outros tipos de amarras, ainda que sutis, para o corpo feminino. Nos anos 20, quando a moda ganhou tons mais dinâmicos, a estética predominante era a da "garçonne", com cortes de cabelo curtíssimos e silhuetas soltas, personificada pela estilista francesa Coco Chanel. Na época, usava-se faixas amarradas para achatar o busto. É quando começa a ideia de que "o corpo é o próprio espartilho", como conta a historiadora Denise Bernuzzi de Sant'anna, em que seios bonitos poderiam ser "construídos" por meio de esportes ou ginástica. "Hoje, a gente faz isso com cirurgia plástica, com o silicone. É a mesma ideia de interiorizar uma estrutura."
No começo da década de 1930, o estilo garçonne saiu de moda e a silhueta feminina voltou a ser valorizada. Com a criação de tecidos elásticos, os sutiãs começaram a ficar mais confortáveis, ganhando também maior variedade de tamanhos e modelos. O boom da peça viria com os primeiros anúncios. "As revistas faziam propagandas de mulheres muito bonitas com o sutiã, que virou objeto de sedução", diz Sant'anna. "O primeiro sutiã, então, vira símbolo de passagem para uma mulher adulta, que perdeu a inocência. Havia uma vergonha, porque o sutiã mostra publicamente que você já é uma mulher, que sabe das coisas, que é uma presa dos homens e cobiçada por eles", completa.
Agora, ele simboliza a essência de uma nova época, em que a liberdade sobre o próprio corpo volta à cena e dá mais liberdade à diversidade dos seios de todas nós. Conforto, autoestima e aceitação podem ser encontrados com mais facilidade nas araras das lojas, em que peças conseguem vestir uma mulher que não quer mais atender apenas às demandas por seios empinados, redondos, simétricos, aquele do imaginário masculino.
"É um momento bem interessante de transformação dessa peça, que agora parece estar mais relacionada ao conforto do à forma de opressão ao corpo feminino. O corpo natural está em alta, portanto bojo endurecido, enchimento, ou outros artifícios ficaram para trás. É hora de modelos com faixas de expansão de tamanho", diz a analista cultural Carol Althaller.
Junto deste texto, Universa apresenta uma seleção de sutiãs sem bojo disponíveis no mercado brasileiro, com e sem aro de sustentação e em diversos materiais, para alimentar os seus desejos por peitos mais livres.