Começo esta reportagem compartilhando uma experiência pessoal que faz parte de uma história coletiva, mais antiga do que eu.
Fiz alisamento pela primeira vez aos 9 anos. Seria a dama de honra do casamento do meu irmão, e o penteado que escolhi como referência não era para um cabelo crespo. Foi o primeiro de muitos. Diziam que os fios lisos eram mais maleáveis e fáceis de cuidar, então, acabei fazendo o mesmo que a maioria das meninas negras.
Mas o processo químico me incomodava. No ensino médio, tive uma aula em que a professora nos apresentou ao formol e falou dos riscos. Senti o cheiro da substância, fiz uma careta por causa do odor forte e me lembrei do produto que passava no cabelo.
Foi só em 2013, aos 20, que passei a usar o estilo "black power". Estava no auge de uma trajetória de identificação racial e reconhecimento como mulher negra.
Trançar o cabelo não é uma técnica nova, pelo contrário: resgata uma prática ancestral, que envolve também as relações de afeto entre mães, filhas, avós, amigas. É também um ato de resistência repassado de geração a geração e que —sorte a nossa!— vem sendo cada vez mais adotado.
Tem até salão de luxo em São Paulo especializado em trançar cabelos, e eu fui lá para conferir.