Uma panela, um prato, um copo e dois talheres.
Precisava dar um jeito de acomodar esses utensílios de cozinha junto das roupas e acessórios na minha única mala abarrotada de coisas.
Era um domingo de fevereiro de 2006, e meus pais rodavam pela nossa casa, no bairro do Limão, em São Paulo, enquanto ajudavam a preparar minha mudança. Desde que recebi a carta confirmando que tinha ganhado uma bolsa integral para o curso de medicina na PUC de Sorocaba, no interior do estado, minha vida virou de cabeça para baixo.
Foi graças ao esforço dos meus pais que cursei o ensino fundamental em uma escola particular. Minha mãe era funcionária pública. Meu pai trabalhava em uma gráfica. Do ensino médio para frente, eles não conseguiram mais bancar meus estudos e passei a frequentar um colégio público.
Depois, prestei um processo seletivo e consegui uma bolsa de 50% em um cursinho pré-vestibular. Sabia, desde pequena, que queria ser médica. No entanto, por ser um curso concorrido, não consegui entrar na faculdade na primeira tentativa. E nem na segunda.
Enquanto isso, além de me dedicar aos estudos, dava aulas de balé e fazia panfletagem para ajudar a pagar as mensalidades. Em casa, meu sonho era prioridade. Foi por isso que, na terceira tentativa, quando recebi a confirmação de que seria bolsista integral através do ProUni, comemoramos tanto. Na época, a mensalidade do curso custava cerca de R$ 2.700.