Uma rolada na timeline de Kylie Jenner e pá, uma foto que é pura ostentação: a caçula da família Kardashian mostra a nail art da vez no volante de um carro de luxo. Ela tem tudo. Manicure impecável e um veículo de dar inveja. Uma mulher que usa as unhas longas é vista como mais feminina e privilegiada. É que é preciso fazer investimento para ostentá-las. De tempo e de dinheiro.
De posse dos dois -e para escrever essa matéria- fui até o salão Senhoritas.ars, de Roberta Munis, no bairro do Limão, em São Paulo. Fiquei cerca de cinco horas sentada na mesa da profissional. O processo de manicure começa parecido com o tradicional. Primeiro, a nail artist lixa a unha natural, faz a cutícula e coloca um líquido para tirar a oleosidade. Tudo para que a porcelana grude com eficiência. Moldes de papel laminados são colocados nas pontas dos dedos. O acrílico é, então, moldado com a ajuda de um pincel e muita paciência. Uma pinça ajuda a deixar o material com a curvatura natural da unha.
Quando o produto está seco, vem a parte mais trabalhosa: a manicure passa horas lixando, lixando e lixando as garras que agora são minhas, mas de material sintético. O esforço todo é para acertar o formato, a espessura da porcelana na unha e textura. Nesse processo, a mesa, as mãos e suas roupas ficam cheias de pó. Já a bunda, por sua vez, parece que perde o formato, a cadeira fica dura. A parte divertida do processo todo, que é pintar e fazer a nail art, representa apenas uma das quatro horas que gastei no salão.
Sai do salão com unhas do tamanho médio, transparentes, cheias de pedrarias. O alongamento durou perfeitamente 21 dias, tempo aconselhável para fazer a manutenção. Depois disso, as unhas dos indicadores começaram a se soltar, mas as pedras e outros adereços continuaram intactos até o dia de refazer o serviço, um mês depois.
Durante o mês que usei a nail art, minha mão fez muito sucesso. As pessoas comentavam toda vez que viam as minhas unhas. Fui abordada no ônibus, em lojas, em bares e até nos mercados de eletrônicos na avenida Paulista. "Achei que isso só tinha na China", falou uma vendedora com forte sotaque chinês. Os alongamentos viraram assunto até na rodinha de amigos que só falavam de futebol e política. Os sorrisos e elogios murchavam quando eu falava o valor do serviço. Minhas unhas eram uma joia preciosa, inclusive no valor desembolsado: o trabalho me custou R$ 380, mas o processo pode sair até por R$ 600 em diversos lugares. Ou seja, puro luxo.
Nas mãos da Kardashian, o acessório deixou de ser "do gueto" para ser descolado e atingir essa pequena fortuna. Um movimento muito comum na história da beleza, quando o serviço ganha visibilidade e o preço bomba, tornando inacessível o acesso a quem desfrutava dele antes.
"Não preciso fazer tarefa de casa"
O batom vermelho e o cabelo impecável já adiantam a que a empresária Patrícia Veneziano, 42, veio. Dona de uma produtora, ela não se importa que as pessoas achem que ela é uma dondoca. Esta é exatamente a impressão que quer passar com as unhas quadradas enormes, sempre pintadas de preto. "Quero que as vejam e percebam que não preciso fazer tarefas de casa", fala ela, que optou pelo visual há seis anos, depois de pirar ao ver a mão de uma mulher em um restaurante em Miami, nos EUA. "Unha grande não é moda, é um poder."
Porém, nem todo mundo que gosta dessa impressão. Gabriela Rocha é mãe de duas crianças pequenas. Troca fralda, faz comida e isso não impede que a manicure esteja em dia. "As pessoas acham que não faço mais nada da minha vida só porque quero me sentir bonita."