Universa Talks

Na primeira edição do evento, mulheres inspiradoras nos convidaram a repensar o mundo

Da Universa Mariana Pekin/UOL

Universa completou ano de vida em 2019. Para celebrar, reuniu as mulheres mais inspiradoras do Brasil em um dia inteiro de conversa sobre os temas mais relevantes do universo feminino. O Universa Talks, realizado na última segunda-feira (27) no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, ouviu mulheres que pensam o feminismo, o movimento negro, mulheres que criam, que quebram estigmas, que chegaram ao topo da carreira, que superaram racismo, homofobia e até mesmo tentativa de feminicídio. Todas dispostas a debater e a construir esse mundo em constante evolução.

Em formato de painéis ou de palestras rápidas, os talks, o evento abordou temas como diversidade, autoestima, violência contra a mulher e ouviu histórias de executivas que conquistaram seu lugar no mundo dos negócios. É só descer a página para ler e assistir essa experiência.

Mariana Pekin/UOL

O que fazíamos sem... poder

"O que seria de nosso mundo e de nossa nação se a humanidade duplicasse o cultivo de pensamento e abrisse suas portas para todas as mulheres?". Com esse questionamento, Barbara Soalheiro, fundadora da Mesa Company, inaugurou a primeira edição de Universa Talks.

Em sua fala, Barbara defendeu que a sociedade perde potência ao excluir e desvalorizar as paixões e as novas ideias que emanam das mulheres. E demonstrou isso contando a sua própria e complexa jornada de repensar e fortalecer os múltiplos significados sobre o que é ser mulher.

Jornalista, empreendedora e com um olhar aguçado sobre tendências, Bárbara reinventou a forma de trabalhar e de entender o trabalho com sua Mesa, que é, hoje, uma empresa com atuação global. E mais: com quase 90% de seu quadro composto por mulheres.

"Quando a gente entra numa reunião e só tem tomadores de decisão brancos, heterossexuais ou só que tenham a mesma visão do mundo, precisamos enxergar o que de fato tá ali: um desperdício"

Barbara Soalheiro, Fundadora da Mesa Company

Mariana Pekin/UOL

Incluir é preciso

Se é para usar termos da moda é necessário pensar em seus verdadeiros significados: 'diversidade' significa fazer uma transformação verdadeira da sociedade, acrescentando respeito, inclusão, fortalecimento e reconhecimento dos próprios privilégios às nossas realidades.

Foi essa a defesa feita pela rapper, turbanista e ativista do movimento negro Preta Rara e também por Chris Naumovs, lésbica, ex-diretora de revista feminina e consultora de grandes marcas.

No painel dedicado ao tema diversidade, as duas contam como miram suas lutas contra o racismo e a LGBTfobia. A conversa foi mediada por Vladimir Maluf, editor de Universa.

"Reconhecer seu privilégio não é criar uma hashtag e ficar falando 'ai, eu reconheço meus privilégios'. É colocar as pessoas pretas, LGBTQI+ e deficientes dentro de seus projetos. Isso é reparação histórica"

Preta Rara, Historiadora, rapper e ativista

Iwi Onodera/UOL

A culpa nunca é da vítima

Elaine Caparroz sofreu uma tentativa de feminicídio há pouco mais de dois meses. As marcas da violência persistem. No palco da Universa Talks sobre violência contra a mulher, a paisagista mostrou na pele a existência da epidemia de violência que atinge as mulheres brasileiras.

Em tratamento para se recuperar das agressões do estudante de direito Vinicius Serra, Elaine mostrou mordidas deixadas nos braços pelo agressor. Pela primeira vez, ela revelou também ter sido dopada e sofrido violência sexual.

Ao seu lado, a promotora de Justiça Valéria Scarance escancarou os métodos e a cultura do estupro que estimulam esse tipo de realidade violenta e machista. "Chega de perguntar: que tipo de roupa a mulher estava usando, se ela bebeu, quanto tempo de relacionamento, quem é o homem. Chega de tantos porquês para a vítima. A gente tem que tirar esse foco da mulher, que está vítima, que passou por uma situação, e colocar o foco na conduta do homem", explicou a promotora.

A mesa foi mediada por Juliana Linhares, editora de Universa.

"Vamos lutar para que a violência contra a mulher diminua, pare e acabe. Vamos lutar pelos nossos direitos, mulheres. Vamos ser corajosas, erguer a cabeça, não ter vergonha e irmos em frente"

Elaine Caparroz, Paisagista e vítima de feminicídio

Mariana Pekin/UOL

Bonitas, confiantes e livres

Como encontrar sua autoestima? Por que as mulheres não se sentem dignas dos postos que ocupam? Por que temos tantas dificuldades em receber elogios? Qual a função das redes sociais na construção da autoestima das mulheres jovens e adultas? Autoestima é mais que se sentir bonita: é ter confiança e admiração por si mesma e liberdade para ser quem se é.

O discurso é bonito, mas colocá-lo em prática é uma construção diária. As dificuldades e as vitórias em busca de autoestima foram debatidas pela ativista e arquiteta Stephanie Ribeiro; a produtora de conteúdo Juliana Romano; a coordenadora do Instituto Avon, Mafoane Odara e Brenda Fucuta, jornalista e autora do blog "Nós", em Universa. A mesa de autoestima foi mediada por Marina Bessa, editora chefe de Universa.

"A teoria do 'se aceite como você é' é muito bonita, mas eu sempre falo: não é um processo imediato. É um processo diário de construção, desconstrução e reconstrução"

Ju Romano, Jornalista de moda

Iwi Onodera/UOL

Mulheres (super) poderosas

Empresárias poderosas contaram sua trajetória de lutas e superação à audiência de Universa Talks. Em comum, elas mostraram a garra, a resiliência, a necessidade de se reafirmarem constantemente para os outros e para si mesmas.

Danielle Torres, diretora da área de seguros da KPMG e primeira executiva trans do país

"Pessoalmente, não gosto da palavra transição de gênero porque parece que você sai de A para B. Afirmação você fala quem você é. (...) Falei da minha afirmação e disse que compreenderia se eles não quisessem que eu trabalhasse mais. Para minha imensa surpresa, minha empresa me acolheu. E comecei a ter várias oportunidades. Trabalho em São Paulo e em Londres. Inclusive, recebi essa promoção quando já tinha me afirmado como transexual."

Eliane Dias, empresária musical e ativista

"Em 2019, coloquei como propriedade a Eliane Dias. Lá fora está muito ruim, e busquei algo aqui dentro. Temos que buscar algo dentro de nós para a gente se apaixonar. Quando a gente se apaixona, a gente fica de olho nos detalhes daquela pessoa que você se apaixona. Para se ter um bom negócio e uma boa carreira, você precisa estar apaixonada."

Juliana Algañaraz, general manager na Endemol Shine Brasil

"A resiliência me fez acreditar nos sonhos. As pessoas que te dão essa chance têm que acreditar nos seus sonhos. Se hoje vocês vieram aqui e estão buscando inspiração, digo a vocês que sejam felizes. Trabalhe com o que você ama: sem paixão, você não vai a lugar algum. Tenha resiliência. Vá em frente, aprenda."

Nina Silva, executiva de TI, sócia-fundadora do Movimento Black Money

"Não preciso pedir inclusão, bater na porta de alguém. Entendi que preciso construir meus próprios castelos. Me mantive dentro das corporações e entendi que precisava ficar nesses espaços. Criei o BlackMoney para dar força às pessoas negras e falar de dinheiro digital e startup para pessoas negras. Isso é criar oportunidade para nós estarmos no comando, no protagonismo, com o microfone. Porque somos assim."

Mariana Pekin/UOL

Pausa para os comentários

A última conversa de Universa Talks propôs uma pausa para rir e discutir sobre os comentaristas de internet. "Os comentários querem comentários, não é?", brinca o blogueiro de Universa Paulo Sampaio.

O debate foi mediado pela editora e blogueira de Universa Luciana Bugni. Lia Bock, Sah Oliveira e Matheus Pichonelli completaram a roda de conversa.

Nem sempre dá para rir dos comentários que eles recebem em seus textos. A blogueira Lia Bock, por exemplo, já foi perseguida após um texto sobre Silvio Santos. "A pessoas querem te destruir. É visceral".

A blogueira Sah Oliveira também já foi acusada por um motivo peculiar. "Me chamaram de racista porque comentei sobre as mulheres negras no MET Gala", relembrou a blogueira que escreve sobre autoestima de pessoas negras.

"Não discuto porque recebo um comentário de ódio com alguém que tem o avatar da Sininho"

Paulo Sampaio, Blogueiro de Universa

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Mariana Pekin/UOL
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