Os indicadores da pesquisa são referentes ao número de mulheres com 16 anos ou mais que aceitaram responder aos questionários. Em projeção feita pelos pesquisadores e usada para definir os números aqui apresentados, esse universo corresponde a 65,6 milhões de mulheres.
Segundo o censo de 2010 (atualizado em 2012) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população feminina maior de 16 anos é de 97.348.809 pessoas.
Segundo o levantamento, 27,4% das mulheres do país sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano. Quase 80% dessas agressões foram praticadas por um conhecido, como cônjuge, ex-companheiro ou até vizinho. E cerca de 40% das agressões aconteceram no interior do próprio lar. Menos da metade das mulheres procuram algum tipo de ajuda para a violência sofrida.
Quando se trata de assédio, como "cantadas", comentários desrespeitosos ou assédio físico no transporte público, os números são ainda maiores: 37,1% das mulheres entrevistadas disseram ter passado por alguma dessas situações nos últimos doze meses.
Em valores absolutos, os resultados são assustadores. Segundo uma estimativa da pesquisa, são mais de 4,6 milhões de mulheres que sofreram uma agressão física (batidão, empurrão ou chute) propriamente dita no Brasil no último ano. O que dá, em média, 536 mulheres por hora. Para violências de qualquer tipo, são 16 milhões de mulheres --1.830 por hora, ou 24,4% do total, considerando o percentual mínimo dentro do intervalo de confiança da pesquisa - algo como a margem de erro. Se levado em conta o percentual máximo, que foi de 30,3% das mulheres entrevistadas, o número chega a quase 20 milhões de vítimas. Para divulgação de porcentagem, a pesquisa considera como dado a média, de 27,4%.
Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP, explica que o objetivo do estudo é produzir dados de qualidade sobre o tema, que permitam elaborar intervenções públicas efetivas no combate à violência contra a mulher. Devido a subnotificação dos casos, diz ela, os registros oficiais do estado não dão conta da dimensão do problema. "Queremos dar visibilidade para esses tipos de violência contra as mulheres que o poder público não consegue captar com as suas classificações."
Somado a isso, afirma ela, a realidade política brasileira não favorece a elaboração e implementação de políticas públicas de combate à violência contra a mulher. "Os principais cargos públicos no Brasil são ocupados por homens. As mulheres não estão nos cargos prioritários importantes para pensar políticas públicas, o que dificulta a implementação de medidas para enfrentar violência de gênero", diz Samira em entrevista ao UOL.
O levantamento, encomendado pelo Fórum, foi feito pelo Datafolha nos dias 4 e 5 de fevereiro de 2019. Ao todo, 2.084 pessoas foram entrevistas, entre homens e mulheres, em 130 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro para o total da amostra nacional é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. As perguntas realizadas pela pesquisa tratavam de situações vividas pelas mulheres nos últimos 12 meses, traçando assim um perfil das mulheres que já sofreram qualquer tipo de assédio, agressão, espancamento, ameaças e ofensa sexual.