Sexoterapia#37: "Abri meu casamento porque sempre traí e fui traído. A regra agora é não mentir"
de Universa
27/11/2020 04h00
Uma em cada três pessoas em relacionamentos monogâmicos tem interesse sexual em outros indivíduos além de seu parceiro, segundo estudo publicado no começo do ano pelo Instituo Kinsey, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. No Brasil, a grama do vizinho também parece mais verde, como mostra um levantamento feito no Rio Grande do Sul, em 2019, pela psicóloga clínica Cristina Schüssler, especialista em terapia e diversidade sexual. Das 536 pessoas comprometidas (hetero e homossexuais) que participaram do estudo, 67% responderam que sentem desejo por outras pessoas. "Isso significa que o desejo é solto, livre, e vai se manifestar em alguma fase do relacionamento. É importante conversar sobre o que fazer com isso", afirma a sexóloga Ana Canosa, apresentadora do podcast Sexoterapia. Ouça o episódio acima.
No caso do produtor de eventos Bruno, 38, a solução foi abrir de vez o relacionamento de dois anos, que já tinha algumas concessões à monogamia desde o começo. "Eu sempre acreditei nesse tipo de acordo, até porque sempre trai e fui traído, mas nunca tinha tido coragem de testar. O desprendimento do Jeff foi a oportunidade que eu precisava. Nossa regra é não mentir", contou ao episódio do podcast dedicada a falar de sexo no casamento (veja a conversa completa no vídeo acima).
Foi depois de muita conversa também que o fotógrafo, escritor, e roteirista Pedro Fonseca, e sua mulher, decidiram abrir o relacionamento monogâmico de 14 anos. "A única regra que a gente colocou é que, ao sentir ou desconfiar que está havendo um afastamento por causa de outra pessoa, a gente converse sobre isso", disse o convidado do programa.
Diálogo x sexo
Tanto para Bruno como para Pedro, o sucesso do modelo não monogâmico de relacionamento tem menos a ver com fazer sexo com outras pessoas do que com a honestidade, o diálogo aberto e franco entre os casais. O objetivo, lembra Pedro, não é sair à caça de outras pessoas, mas não ignorar o fato de que pode acontecer de um terceiro elemento despertar o desejo de alguém, e, neste caso, isso será discutido entre o casal. "A confiança de saber que os dois estão no mesmo barco, vivendo a mesma experiência faz toda a diferença", afirma a sexóloga.
Mas nem toda a conversa do mundo anula o fato de que sim, o processo é difícil, com muitos altos e baixos pelo caminho. Bruno conta que se sentia inseguro e tinha muito ciúme no começo, mas que aos poucos foi percebendo que o novo esquema só tornava a relação mais transparente, mais honesta. "Percebi que não tem mais por que mentir e enganar", afirma. Lidar com o ciúme e com o fato de não ocupar um lugar de exclusividade na vida do outro estão entre as principais implicações de abrir o relacionamento, lembra Ana. E até por isso, funciona para alguns casais, mas não para outros. "É uma decisão muito difícil de ser tomada, e que tem que ser muito conversada. Depende também da fase de cada relacionamento. Agora, abrir relacionamento em momentos de crise ou de fragilidade de um dos dois, nem pensar", aconselha.
Para saber mais
Livros: "Sexo no cativeiro", Esther Perel; "Mulheres que Correm com os Lobos", Clarissa Pinkola Estés; "A Cama na Varanda", Regina Navarro Lins.
Filme: Longe dela, Sarah Polley (2008).
Séries: Novas mulheres (Youtube); Turma do peito ( Netflix).
Acompanhe o Sexoterapia
Desejo no casamento é o tema do trigésimo sétimo episódio do podcast Sexoterapia. A quinta temporada do programa será dedicada a refletir sobre dilemas masculinos. Nesse episódio, as apresentadoras Marina Bessa, jornalista, e Ana Canosa, sexóloga, recebem o fotógrafo e roteirista Pedro Fonseca.
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